Rio de Janeiro

Caso de intolerância religiosa em Itaboraí

A Comissão de Combate às Discriminações da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) vai receber, na próxima segunda-feira (23/05), representantes de templos de religiões de matriz africana de Itaboraí que denunciaram caso de intolerância religiosa, ocorrida durante um show gospel na noite de quinta-feira (19/05).

A comissão da Alerj notificou a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) e o Ministério Público sobre falas do pastor Felippe Valadão, da Igreja Lagoinha, consideradas ofensivas e ameaçadoras contra praticantes desses cultos. Também oficiou o prefeito da cidade, pedindo explicações. O show era parte das comemorações dos 189 anos do município.

A comissão orienta as vítimas de intolerância a realizarem boletim de ocorrência nas delegacias. A Alerj aprovou a Lei 7.855/18 que determina que conste dos boletins de ocorrência a tipificação específica de Intolerância Religiosa, como medida para melhor enfrentamento desses crimes.

O encontro será no gabinete do presidente do colegiado, na sede da Alerj. A intenção é acompanhar o desdobramento do inquérito policial.

Itaboraí teve protesto contra a intolerância religiosa após pastor atacar religiões de matriz africana em evento da prefeitura. O ato foi neste domingo, no Centro do município. 

Na quinta-feira, religioso discursou no palco montado para os 189 anos da cidade citou ‘endemoniados’ e disse que ‘o tempo da bagunça espiritual acabou’: ‘Prepara para ver muito centro de umbanda sendo fechado na cidade’, discursou.

Centenas de pessoas protestaram contra a intolerância religiosa neste domingo (22), no Centro de Itaboraí, Região Metropolitana do Rio. O ato foi marcado após o pastor Felippe Valadão atacar religiões de matrizes africanas em evento oficial da prefeitura, na última quinta-feira (19).

Religiosos levaram atabaques e entoaram cânticos da umbanda e candomblé. Além de expressar a revolta com o discurso, os organizadores do movimento também queriam uma retratação oficial da prefeitura.

O prefeito da cidade, Marcelo Delaroli, recebeu os manifestantes, ouviu as reclamações, e pediu desculpas e prometeu que, em julho, vai se unir aos terreiros da região para promover uma semana de eventos atividades educativas para combater a intolerância religiosa na cidade.

O pastor Felippe Valadão, da Igreja Lagoinha, atacou religiões de matriz africana durante o intervalo dos shows comemorativos em Itaboraí. Valadão subiu ao palco e discursou: “De ontem para hoje tinha quatro despachos aqui na frente do palco. Avisa aí para esses endemoniados de Itaboraí: o tempo da bagunça espiritual acabou, meu filho. A igreja está na rua!!! A igreja está de pé!!!”, gritou. “E ainda digo mais: prepara para ver muito centro de umbanda sendo fechado na cidade!”, emendou.

Felippe também declarou vir “um tempo aí”. “Deus vai começar a salvar esses pais de santo que tem na cidade. Você vai ver coisa que você nunca viu na vida. Chegou o tempo, Itaboraí! Aquele espírito maligno de roubalheira na política acabou”, afirmou.

Entidades protestam

A Comissão de Povos Tradicionais de Terreiros de Itaboraí divulgou uma nota de repúdio nesta sexta-feira (20): “Em sua fala, o pastor agride de maneira vil, desrespeitosa e ameaçadora à comunidade religiosa do candomblé e da umbanda nesta cidade”, diz.

A entidade também questiona “o motivo de uma manifestação festiva, popular e laica ter em sua programação discursos de cunho religioso”.

O que diz a prefeitura

A Prefeitura de Itaboraí informou que declarações dos convidados e artistas para as apresentações “são de inteira responsabilidade deles”: “A prefeitura destaca ainda que o governo é para todos, que repudia qualquer manifestação de intolerância religiosa e ressalta que o Estado é laico.”

Fonte: G1 e Alerj

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa