Belford Roxo

Os três meninos de Belford Roxo desaparecidos há um mês

A cozinheira Sílvia Regina da Silva, avó dos meninos, reúne esperança e forças para buscar informações sobre seus netos desaparecidos desde 27 de dezembro na comunidade Castelar, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. A investigação continua e apura a participação do tráfico local, além de também aguardarem o resultado de um exame de DNA feito em uma roupa encontrada em uma comunidade perto de onde os meninos moram.

Há um mês, os primos Alexandre da Silva, de 10 anos, e Lucas Matheus, de 8 anos, e o colega Fernando Henrique, de 11 anos, sumiram depois de saírem de casa para jogar bola num campinho no condomínio onde moram e nunca mais foram vistos. “A esperança é a última que morre, né? Tenho quase certeza que eles ainda estão vivos. A fase da bronca já passou. Agora, quando eles aparecerem vou mesmo é fazer uma festa, encher eles de abraços e de beijos”, disse Regina.

Silvia Regina parou de trabalhar na casa de repouso onde era cozinheira para focar exclusivamente na busca dos netos Alexandre e Lucas. “A polícia não tem nenhuma pista. Mas vou lá quase todo dia para que o caso não caia no esquecimento. Alguém tem de me explicar como é que essas crianças sumiram assim, sem ninguém ver”, disse a avó.

O tio de Fernando Henrique, Anderson Caetano, relata que a mãe de Fernando Henrique mudou sua rotina após o desaparecimento. Anderson também não consegue imaginar o que aconteceu.

“A mãe dele agora, está muito agitada, fica trancada em casa com os outros filhos de 4 anos e 1 ano. Não sei como esses meninos sumiram. Nenhuma câmera viu. Mas entra carro e moto no condomínio o tempo todo. Fico pensando se não colocaram eles num carro e saíram de lá à noite sem ninguém ver. A gente ainda tem esperança de encontrar Fernando vivo. Ou ao menos que digam onde está o corpo para a família poder enterrar”, disse Anderson.

Regina conta que Lucas e Xande estavam acostumados a jogar bola no campinho com outras crianças do condomínio e que, ao contrário do que ouviu de “muita gente maldosa”, nunca ficavam sem supervisão de outros adultos.

A rotina dos meninos

Perguntada sobre a rotina das crianças, ela lembrou de detalhes: “O Xande gosta mais de soltar pipa e de passarinhos. Todo dia ele acordava, cuidava dos passarinhos, colocava lá fora para pegar sol. O Lucas vivia aqui em casa. Ele gosta de jogar futebol, é bom de bola. Jogava até com os mais velhos. Agora, abro a porta e fico olhando para o nada, para o lugar onde Xande colocava os passarinhos”.

No dia do desaparecimento, ela conta que os meninos foram jogar bola no campinho. Depois voltaram em casa, tomaram banho, trocaram de roupa e, como o almoço ainda não estava pronto, pegaram pão e voltaram para o campinho. Colegas do condomínio contaram que Xande chamou os meninos para ir à feira comprar comida de passarinho. Outros colegas não quiseram ir.

“Dizem que eles foram sozinhos, por um atalho que atrás do condomínio. Era domingo e o portão do condomínio fica fechado. Sei que o Xande pediu dinheiro à mãe, mas ela disse que só tinha R$ 2. O Lucas tem um cofrinho cheio de moedas. Não sei se ele chegou a pegar dinheiro. O que a gente sabe é que o outro menino, o Fernando, tinha R$ 4”, disse Regina, que só veio a conhecer a família de Fernando com o desaparecimento das crianças.

A falta de pistas

A Polícia colheu material genético das mães dos três desaparecidos e aguardam o resultado do exame de DNA feito em uma camisa encontrada com sangue na própria comunidade em que eles moravam. Desde o desaparecimento, nenhuma das câmeras analisadas continha imagens da movimentação das crianças em Belford Roxo ou mesmo outros pontos da Baixada Fluminense e da Capital.

O delegado titular da DHBF, Uriel Alcântara, disse que a investigação sobre a possível participação do tráfico ganhou força devido a falta de informações sobre o paradeiro dos meninos. Há uma linha que investiga se os meninos teriam sido mortos após um deles ter roubado uma gaiola de passarinho de um parente de um dos traficantes do Castelar, onde moram.

“É uma hipótese, mas não tem nada concreto que tenha realmente ocorrido. É uma informação que a gente recebeu e que com o passar do tempo passou a ter um peso maior sobre a possibilidade de ser o tráfico”, afirmou o delegado.

Um homem chegou a ser levado como suspeito do crime por moradores da região. Segundo a Polícia Civil, ele foi torturado por traficantes e obrigado a confessar. No dia, houve protestos e até um ônibus queimado na Avenida Retiro da Imprensa, próxima à comunidade do Castelar. A partir daí a DHBF voltou seus olhares para a atuação do tráfico.

“Como é que um cara aparece torturado, com eles (moradores) dizendo que era o cara? Amarrado, com um cartaz? O cara confessa e o tráfico não mata, seja o que for que ele tenha confessado. Então isso é estranho. Se passou muito tempo. A gente achava que não seria possível isso no início. Depois de praticamente um mês, a gente começa a repensar a possibilidade de ter sido o tráfico”, avaliou.

Luiz Henrique Oliveira, gerente do SOS Crianças Desaparecidas, diz que vem conversando com as famílias e com a polícia, e ressaltou que o caso vem sendo tratado com cuidado. “É um caso enigmático. Temos que dar uma resposta positiva”, finalizou.

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa

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