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Padre Henrique: sequestrado, torturado e morto pela ditadura

No dia 27 de maio de 1969, o Padre Antônio Henrique Pereira Neto foi sequestrado, torturado e brutalmente assassinado por agentes da ditadura militar, membros do Comando de Caça aos Comunistas.

Padre Henrique se tornou uma figura central na luta pelos Direitos Humanos, denunciando de forma incansável as violações cometidas durante a ditadura, em especial os assassinatos de opositores ao regime.

Ele ficou conhecido por presidir a missa em memória do jovem estudante Edson Luís de Lima Souto, que foi covardemente assassinado por policiais militares. Esse trágico evento gerou revolta e protestos em todo o país, culminando na histórica Passeata dos Cem Mil, que se tornou um marco na resistência ao regime militar e resultou na implantação do AI-5, um dos períodos mais sombrios da história brasileira.

As denúncias feitas pelo Padre Henrique e seu engajamento junto aos estudantes e à Pastoral da Juventude o tornaram alvo do Comando de Caça aos Comunistas, um órgão de extrema-direita que o acusava de ser comunista. Eles planejaram um atentado contra o Colégio Juvenato Vidal, onde o Padre Henrique lecionava, e atiraram contra o local, deixando o estudante Cândido Pinto de Melo paraplégico.

Diante dessa situação, Padre Henrique organizou um protesto, mas antes que pudesse ser concluído, na noite do dia 26 de maio de 1969, ele foi sequestrado. Seu corpo foi encontrado com múltiplas marcas de tortura, incluindo cortes, mutilações, hematomas profundos, sinais de estrangulamento e três disparos de arma de fogo na cabeça. Seu rosto estava desfigurado e as mãos estavam atadas.

O assassinato de Padre Henrique causou indignação na população, que realizou uma grande procissão com gritos de protesto contra a ditadura. No entanto, as autoridades conduziram uma investigação que afirmava que o Padre Henrique foi vítima de um crime comum.

Com a criação da Comissão da Verdade e a revelação de documentos secretos do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), os responsáveis pelo assassinato foram identificados: os investigadores da Polícia Civil de Pernambuco Rível Rocha e Humberto Serrano de Souza, o promotor José Bartolomeu Lemos Gibson, e os estudantes Jerônimo Duarte Rodrigues Neto e Rogério Matos do Nascimento. É importante ressaltar que dois dos envolvidos ainda estão vivos, mas não foram responsabilizados criminalmente devido à Lei da Anistia.

Além disso, aponta-se que o assassinato de Padre Henrique foi uma mensagem direcionada a Dom Helder Câmara. A morte do padre foi um dos motivos para o agravamento das tensões entre a Igreja e os militares, já que Dom Helder fazia constantes críticas ao regime. A morte do jovem Dom Fernando, que era próximo a Dom Helder, foi considerada por muitos como uma retaliação para silenciar as denúncias do arcebispo.

Infelizmente, a coragem e o comprometimento de Padre Antônio Henrique com a defesa dos direitos humanos o colocaram na mira dos agentes da ditadura. Seu sequestro, tortura e assassinato representam apenas um dos inúmeros episódios trágicos ocorridos durante aquele período sombrio da história do Brasil.

Hoje, recordamos e honramos a memória do Padre Antônio Henrique Pereira Neto e de todas as vítimas da violência e da repressão durante a ditadura militar. Seu sacrifício e seu exemplo de coragem e dedicação à justiça e aos direitos humanos devem servir como inspiração para nunca esquecermos e lutarmos para que tais violações não se repitam.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa