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Aldeia Maracanã recebe nova ordem de despejo

A comunidade indígena Aldeia Maracanã (Tejo haw Maraka’nã) foi surpreendida na quarta-feira (12) com uma nova ordem de despejo, a ser cumprida em 30 dias. Líderes da aldeia relataram que dois oficiais de justiça, acompanhados por seguranças da Justiça Federal, entregaram o mandado de imissão na posse. A ação foi registrada e divulgada nas redes sociais da comunidade.

Esta é a sexta tentativa da Justiça Federal de executar a ordem, que tramita em segredo de justiça no 2° Tribunal Regional Federal (TRF-2). O processo foi movido pelo governo do Rio de Janeiro contra os integrantes da aldeia.

Histórico de conflitos

Em março de 2013, após dias de impasse, a polícia cercou a Aldeia Maracanã com aproximadamente 100 oficiais, utilizando cães, motocicletas, viaturas e veículos blindados para a desocupação do local. Os policiais usaram força para dispersar os manifestantes, empregando balas de borracha, bombas de efeito moral e spray de pimenta. A ação violenta ganhou destaque na mídia internacional, com a Reuters relatando que a polícia do Rio desalojou “nativos da Amazônia de um local destinado à Copa do Mundo”. Muitos condenaram a ação do governo.

Reocupação 

No mesmo ano, ativistas e membros de comunidades indígenas organizaram um movimento para retomar o antigo edifício do Museu do Índio, resultando na reocupação da Aldeia Maracanã em 20 de outubro de 2013. Desde então, a Aldeia Maracanã tornou-se um ponto central para discussões sobre os direitos dos povos indígenas em zonas urbanas e a conservação de locais históricos.

Novas ameaças no governo Bolsonaro

No início de 2019, a Aldeia Maracanã foi alvo de ataques por deputados bolsonaristas que fizeram declarações racistas, referindo-se à Aldeia Maracanã como “lixo urbano” e alegando que o local se tornou uma área de consumo de drogas. Um dos deputados, afirmou que o terreno é um “terreno baldio, cheio de mato e lixo”. Na época, a ComCausa notificou a Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos e o então Ministério dos Direitos Humanos da Mulher sobre os riscos de possíveis atentados contra os ocupantes da aldeia, responsabilizando os deputados por incitarem a violência.

Em setembro de 2020, proximo às eleições daquele ano, relatos compartilhados na página oficial da Aldeia Maracanã no Facebook denunciaram que deputados voltaram ao local com seis homens armados, fazendo declarações agressivas com claras intenções de ameaçar os ocupantes para gerarem imagens para internet. Novamente, a ComCausa enviou ofícios à secretaria de polícia civil e militar, destacando o risco aos integrantes da Aldeia Maracanã e indicamdo a responsabilidade dos deputados pelas ações que as pessoas no local poderiam sofrer.

Encontro no Ministério dos Povos Indígenas

Em abril deste ano, a ComCausa esteve no Ministério dos Povos Indígenas e, entre outros assuntos referentes à pasta, destacou a preocupação com informações sobre possíveis movimentações contra a Aldeia Maracanã, o que lamentavelmente se consolidou.

ComCausa discute combate ao racismo no Ministério dos Povos Indígenas

Histórico da Aldeia Maracanã

A história da Aldeia Maracanã começa com a fundação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) em 1910, por Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. Ele estabeleceu que a área na Rua Mata Machado, no bairro Maracanã, abrigaria um museu dedicado aos primeiros habitantes do Brasil. Em 1953, sob a liderança do etnólogo Darcy Ribeiro, o museu foi inaugurado. Em 1977, o museu mudou-se para Botafogo, e o antigo prédio foi abandonado.

Em 2006, um grupo de indígenas ocupou a área, reivindicando a transformação do espaço em um centro cultural. A aldeia agora abriga doze famílias de diversas etnias em casas construídas com materiais como madeira, amianto, plástico, sapê e bambu. A ocupação originou-se de cerca de 35 indígenas de 17 diferentes etnias e marcou o início da Aldeia Maracanã.

O local não é apenas um refúgio de resistência, mas também um espaço de intercâmbio cultural, aberto ao público, especialmente ao não indígena. A aldeia serve como uma plataforma para educação intercultural, promovendo a compreensão e o respeito por diversas tradições culturais brasileiras, contribuindo para uma sociedade mais inclusiva. Tornou-se um ponto de referência indígena no Rio de Janeiro, demonstrando a resiliência e vitalidade dessas culturas em um contexto urbano.

Memória: O drama dos ataques à Aldeia Maracanã

Imagens ilustrativas.

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa