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Capela de São Mateus: Monumento das Raízes de Nilópolis

No final de julho, durante uma missa inculturada afro-católica, os membros da ComCausa foram convidados a participar e a instituição foi chamada a assumir o compromisso de apoiar os movimentos locais pelo tombamento da Capela de São Mateus, um monumento de imensa importância histórica e de resistência do povo negro.

Dias após o encontro, foi estabelecido contato com o professor Cidney de Oliveira Inácio, especialista em História Social do Brasil e Mestre em Letras e Ciências Humanas, além de morador de Nilópolis. Solicitou-se seu apoio para iniciar o processo de resgate histórico e para a criação de uma série de matérias que a ComCausa divulgará em seus canais de comunicação.

O professor Cidney forneceu informações do estudo intitulado “Documento – Monumento das Raízes de Nilópolis”, que reforça que a capela, construída em 1637 por negros escravizados e indígenas, é um dos marcos históricos mais importantes da Baixada Fluminense. A preservação deste patrimônio é vital para manter viva a memória da fé e da resistência da população negra.

A construção da capela está intrinsecamente ligada ao processo de colonização do Brasil pelos portugueses. Inicialmente, após um período de desinteresse, a coroa portuguesa decidiu efetivar a ocupação do território, seguindo as orientações de Pero Vaz de Caminha, que enfatizava a exploração econômica e a propagação da fé católica. A Igreja Católica, em estreita colaboração com o Estado, desempenhou um papel crucial na expansão territorial, principalmente através da Companhia de Jesus, que se dedicava à catequização das populações indígenas.

No início do século XVI, o Rei de Portugal implementou o Sistema de Capitanias Hereditárias, que consistia na concessão de vastos lotes de terra a fidalgos de confiança para exploração e defesa. Apesar do fracasso inicial deste modelo, a centralização administrativa no Governo Geral buscou melhorar a eficiência da colonização.

A expansão Portuguesa e a Baixada Fluminense

Durante a luta para expulsar os franceses do Rio de Janeiro em 1555, os portugueses voltaram seus olhos para a Baixada Fluminense, rica em rios como Sarapuí, Botas, Iguaçu e Meriti. A região, pertencente à Capitania de São Vicente, foi distribuída em sesmarias a homens de confiança como Braz Cubas, cuja propriedade englobava os atuais municípios de Nilópolis, São João de Meriti, Mesquita, Nova Iguaçu e Duque de Caxias.

A construção da Capela de São Mateus

A Capela de São Mateus foi construída em um ponto estratégico, elevado e próximo ao rio Sarapuí. A mão de obra utilizada foi escravizada, e seu estilo arquitetônico é barroco. Este monumento religioso serviu como um importante centro de observação e controle da região. Com o tempo, a capela tornou-se um marco na consolidação da presença portuguesa.

Era comum na época colonial que os fundos das igrejas fossem utilizados como cemitérios. Na Capela de São Mateus, ossadas e marcas no piso indicam o sepultamento de indivíduos ricos próximo à igreja, inclusive dentro dela. Um cemitério ao lado da capela foi reservado para os membros da fazenda e, posteriormente, para os moradores pobres da freguesia, quando a capela se tornou matriz.

Importância econômica e social

A Freguesia de São João Batista de Meriti, onde se localizava a Fazenda de São Mateus, tornou-se um importante centro de produção de alimentos e rota de passagem do ouro extraído das minas no século XVIII. A Capela de São Mateus foi elevada à condição de matriz da freguesia e recebeu a visita de importantes autoridades eclesiásticas, como Monsenhor Pizarro em 1788.

Ao longo dos anos, a importância deste local foi colocada à margem da história, e apenas nas últimas décadas surgiu um movimento gradual para resgatar e buscar seu reconhecimento. A capela passou por várias restaurações ao longo do tempo, preservando suas características barrocas jesuíticas originais. Em 1999, foi declarada Patrimônio Histórico Municipal, e atualmente os esforços se concentram em buscar o reconhecimento estadual e nacional.

Compromisso da ComCausa

A Capela de São Mateus é um documento-monumento que simboliza a profunda ligação entre a história colonial brasileira e a Baixada Fluminense. É um símbolo da fé católica na região, com um passado profundamente entrelaçado com a história dos negros escravizados e indígenas que a construíram. Em seu terreno, existe um cemitério onde estão enterrados 55 escravizados e indígenas, vítimas de uma epidemia de cólera no século XIX.

Sua construção, marcada pela exploração e pela fé, reflete as complexas relações de poder, economia e religiosidade que moldaram a formação da região. Reconhecer a importância da Capela de São Mateus é uma oportunidade crucial para refletirmos sobre nosso passado e traçarmos ações concretas para o futuro. Preservar e conhecer este patrimônio é fundamental para entender as raízes e a identidade de Nilópolis e da Baixada como um todo.

São Mateus, em Nilópolis Comcausa Pastoral Afro

A união entre a Pastoral Afro e a ComCausa fortalece a luta pelo reconhecimento e preservação dos patrimônios históricos e culturais, além de promover a igualdade racial e a justiça social. Contribuir para o reconhecimento da Capela de São Mateus é manter viva a memória de nossa história e honrar o legado daqueles que construíram esse país. Nossa missão é garantir que esses patrimônios continuem a inspirar futuras gerações e a lembrar a todos nós da importância da resistência e da fé.

Todas as informações presentes neste artigo são baseadas no estudo intitulado “Documento – Monumento das Raízes de Nilópolis” de Cidney de Oliveira Inácio, professor de História, Especialista em História Social do Brasil e Mestre em Letras e Ciências Humanas.

Semana de atividades antirracistas e compromisso coletivo da ComCausa

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa