Massacre da Sé: o trágico episódio que deu origem ao Dia Nacional da População em Situação de Rua
Na madrugada de 19 para 20 de agosto de 2004, a Praça da Sé, marco zero de São Paulo, foi palco de um massacre brutal que deixou sete moradores de rua mortos e seis gravemente feridos. Durante a noite, homens invadiram a praça e atacaram ferozmente as pessoas que ali dormiam, utilizando barras de ferro e pedaços de madeira como armas.
Apesar dos fortes indícios de envolvimento de policiais militares, considerando o histórico de grupos de extermínio na cidade, principalmente naquela época, as investigações não conseguiram identificar os responsáveis pelo crime. Na época, a condução inadequada da investigação foi criticada, com alegações de que a falta de culpados reforçava a invisibilidade e a desvalorização das vidas dos moradores de rua de São Paulo.
Esse trágico evento impulsionou a criação do Movimento Nacional da População em Situação de Rua e levou à instituição do dia 19 de agosto como o Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua.
Com o lema “A rua não é lugar para se viver, muito menos para morrer”, o movimento chama atenção para a falta de dados precisos sobre a quantidade de pessoas que vivem e morrem nas ruas de São Paulo. De acordo com o Instituto de Identificação da Secretaria de Segurança Pública do Estado, estima-se que entre abril de 2021 e 2022, cerca de 2.500 óbitos tenham ocorrido nessas condições, sem qualquer identificação ou qualificação das vítimas. Muitos desses indivíduos, não identificados, são enterrados em valas comuns, sem nome ou idade registrados.
As causas que levam as pessoas à situação de rua são complexas e diversas, mas a raiz estrutural desse problema está no nível de destruição econômica que afeta os mais vulneráveis em uma sociedade marcada pela profunda desigualdade social. Além da crise econômica recente, assistentes sociais em São Paulo relatam que há famílias que já estão na terceira ou quarta geração vivendo nas ruas, sem perspectivas de mudança. Se essa realidade for confirmada, será um retrato devastador do descaso e abandono enfrentados por essas pessoas.
