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Dia Internacional em Memória do Tráfico de Escravizados e sua Abolição

No dia 23 de agosto, o mundo se une para lembrar o Dia Internacional em Memória do Tráfico de Escravizados, uma data instituída pela UNESCO para homenagear e refletir sobre o comércio transatlântico de escravos. Este dia carrega um significado profundo, pois rememora a noite de 22 para 23 de agosto de 1791, quando, na ilha de Saint Domingue (hoje Haiti), teve início uma revolta que desempenhou um papel crucial na abolição desse comércio cruel e desumano.

A data foi oficializada pela Conferência Geral da UNESCO durante sua 29ª sessão, através da resolução 29 C/40, como parte de um esforço global para reconhecer e rememorar as causas, os métodos e as consequências do tráfico de escravizados. Mais do que um simples marco histórico, este dia é um convite à educação, ao diálogo e à reflexão sobre as injustiças que caracterizaram esse período sombrio da humanidade.

A viagem transatlântica geralmente durava várias semanas e muitas vezes resultava em perdas devastadoras de vidas. Por exemplo, partindo de Luanda, a viagem para Recife durava em média 35 dias, para Salvador cerca de 40 dias, e para o Rio de Janeiro, de 50 a 60 dias. Essas longas travessias, realizadas em condições extremamente precárias, foram responsáveis por uma alta taxa de mortalidade entre os escravizados.

As estimativas atuais indicam que aproximadamente 12 milhões de africanos foram enviados através do Atlântico, embora o número de pessoas compradas pelos comerciantes de escravos seja consideravelmente maior. No entanto, muitos dos que embarcaram na África não sobreviveram à travessia. Em um registro, consta que 404 escravos embarcaram em terras africanas, mas apenas 290 chegaram ao Brasil. Durante a travessia do Atlântico, 114 homens, mulheres e crianças perderam suas vidas.

Cais do Valongo

Entre os portos brasileiros, o Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, foi a principal porta de entrada de africanos escravizados no Brasil entre o fim do século XVIII e meados do século XIX. O objetivo do cais era retirar da Rua Direita, atual Primeiro de Março, o desembarque e o comércio de africanos escravizados. Esses escravos eram destinados principalmente às plantações de café, fumo e açúcar no interior e em outras regiões do Brasil. Redescoberto entre 2011 e 2012, durante as obras de revitalização da zona portuária carioca, o Cais do Valongo foi, em 9 de julho de 2017, integrado à Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO. A organização considera o Cais do Valongo o mais importante vestígio físico da chegada dos escravizados negros ao continente americano, comparando-o a outros lugares de memória e sofrimento, como Hiroshima e Auschwitz.

Tráfico negreiro

Anualmente, os Estados-membros da UNESCO promovem eventos que envolvem jovens, educadores, artistas e intelectuais, todos integrados ao projeto intercultural “A Rota do Escravo”. O objetivo é promover o reconhecimento coletivo das atrocidades cometidas durante o tráfico de escravizados e discutir suas repercussões que ainda ecoam nos dias de hoje.

Além de prestar homenagem às milhões de vítimas desse comércio, o Dia Internacional em Memória do Tráfico Negreiro também nos oferece a oportunidade de discutir o legado da escravidão em nossas sociedades contemporâneas. As cicatrizes deixadas por esse período não pertencem apenas ao passado; elas continuam a influenciar as dinâmicas sociais, culturais e econômicas ao redor do mundo.

Reconhecer e relembrar essa história é de vital importância. A escravidão moldou as relações entre continentes, países e culturas, e suas consequências ainda são sentidas de diversas formas. Por isso, este dia é mais do que uma simples data no calendário; é um chamado à ação, à reflexão e à luta constante contra o racismo e todas as formas de discriminação que ainda persistem.

Neste 23 de agosto, ao celebrarmos o Dia Internacional em Memória do Tráfico Negreiro, somos inspirados pela força e resistência daqueles que lutaram pela liberdade. É também um momento para lembrar da importância de continuar a luta por justiça e igualdade em todo o mundo.

Como parte dessa reflexão, vale destacar a obra de arte criada pelo grupo Black Pantera em seu clipe da música “Perpétuo”. A canção aborda o tráfico de escravizados em sua letra, oferecendo uma poderosa homenagem e um lembrete da história que nunca deve ser esquecida.

Foto capa: Cais do Valongo.

Confira abaixo:

ComCausa participa da 13ª Lavagem do Cais do Valongo

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa