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32 anos após o Massacre do Carandiru: O cenário atual dos presídios brasileiros

O massacre do Carandiru, ocorrido em 1992, foi um marco trágico na história do sistema prisional brasileiro. Trinta e dois anos depois, os desafios enfrentados pelas penitenciárias no país permanecem graves e, em alguns aspectos, pioraram.

A superlotação é uma das questões mais graves do sistema prisional brasileiro. Segundo o Infopen (Sistema de Informações do Departamento Penitenciário Nacional), o Brasil tem hoje mais de 820 mil presos, o que representa a terceira maior população carcerária do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. A capacidade do sistema prisional, no entanto, é para cerca de 400 mil presos, o que significa que há uma superlotação de mais de 100%. Esse problema agrava as condições de vida dos detentos, criando um ambiente propício para doenças, violências e rebeliões.

Violência e Controle de Facções
Outro problema crítico é a violência interna e o controle de facções criminosas sobre muitos dos presídios. Facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) têm grande influência dentro das cadeias, organizando desde rebeliões até operações criminosas fora das penitenciárias. O massacre de Altamira, no Pará, em 2019, onde 57 presos foram mortos em um confronto entre facções, ilustra o nível de violência ainda presente nos presídios.

Condições Desumanas
As condições físicas e sanitárias das penitenciárias continuam extremamente precárias. Muitos presídios carecem de itens básicos, como água potável e saneamento adequado, e há relatos de que detentos vivem em celas superlotadas e insalubres. A falta de assistência médica adequada agrava o problema de saúde pública dentro das prisões, com surtos de doenças como tuberculose e hepatite C sendo comuns. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) reporta que em várias unidades prisionais os presos precisam improvisar em barracos e redes por falta de espaço.

Ressocialização e Reincidência
A falta de programas efetivos de ressocialização é outro grande desafio. De acordo com dados do Infopen, menos de 20% dos presos no Brasil têm acesso a atividades educacionais ou de trabalho dentro das penitenciárias. Isso resulta em uma alta taxa de reincidência criminal, estimada em cerca de 70%, pois os egressos do sistema prisional saem das cadeias sem perspectivas de reintegração social e acabam voltando para o crime.

Reforma e Ações do Estado
Nos últimos anos, algumas iniciativas foram tomadas para tentar amenizar a crise, como a construção de novas penitenciárias e o incentivo ao uso de alternativas penais, como tornozeleiras eletrônicas e audiências de custódia. O Brasil também tem expandido o uso de prisões privatizadas em alguns estados, mas essas medidas não resolveram a questão da superlotação e nem melhoraram as condições de vida dos detentos.

Dados Recente
Segundo um levantamento de 2023, o Brasil tem mais de 40% dos presos em caráter provisório, ou seja, aguardando julgamento. Isso contribui diretamente para a superlotação, pois muitos presos poderiam estar em liberdade condicional ou cumprindo penas alternativas. A falta de infraestrutura adequada, associada ao crescimento exponencial da população carcerária, agrava o problema.

Trinta e dois anos após o massacre do Carandiru, o sistema prisional brasileiro continua enfrentando desafios complexos e interligados. A superlotação, a violência entre presos, o controle de facções, a falta de condições humanas e a ausência de políticas eficazes de ressocialização impedem uma transformação real do sistema. Sem reformas profundas e contínuas, o cenário tende a piorar, perpetuando o ciclo de violência e exclusão social.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa