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A cultura da exclusão na mortalidade materna

Por Emanoelle Cavalcanti é integrante da ONG ComCausa e acadêmica de psicologia.

Não há com desassociar os altos índices de mortalidade materna do leque de preconceitos que as mulheres sofrem na sociedade. Todos os dias, aproximadamente 830 mulheres morrem por causas evitáveis relacionadas à gestação e ao parto no mundo. Destes, a grande maioria desses casos seriam evitáveis com condições mínimas de dignidade.

Evidente que tal situação ocorre com as mulheres mais pobres, moradoras de comunidades e de áreas rurais. A falta de acesso a serviços inadequados, de informação e acesso, dificultam que gestantes receberem ou procurarem cuidados. As mais jovens sofrem mais com a falta de atenção adequada, assim o risco de complicações na gravidez e no parto é mais alto para adolescentes. Trazendo para uma realidade mais próxima, no município de Japeri, na Baixada Fluminense, segundo estudo do PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, em 2016 – o percentual de mulheres de 15 a 17 anos de idade que já tiveram filho é de 73,5 %. Como o município não tem programas específicos de prevenção e tratamento, este número pode esconder o drama que é mascarado pelas subnotificações.

Muitos problemas de saúde podem acontecer antes da gestação, mas são agravados durante a mesma: hipertensão (pré-eclâmpsia e eclâmpsia); hemorragias graves e infecções, normalmente depois do parto. Além desses, complicações durante o nascimento – devido à falta de condições adequadas -, e abortos inseguros são provocadores da morte de milhares de mulheres.

Não é novidade as ações que são possíveis para reduzir estes números. Começando pela atenção básica de saúde a fim de que todas as mulheres realizem pelo menos quatro consultas de pré-natal e recebem atendimento após o parto. Em paralelo, coletar dados de alta qualidade, a fim de responder às necessidades e prioridades de mulheres e meninas, abordando todas as causas de mortalidade reprodutivas para melhorar a saúde materna.

Importante também é garantir acompanhamento psicológico em todas estas fases e promover culturalmente a humanização do planejamento familiar pré-natal, do parto e do resguardo. Atualmente o que temos é o acompanhamento em possíveis complicações pós-parto, como a depressão, ou em situações mais dramáticas como quando ocorre o falecimento da mãe. Assim, ter uma política sistêmica preventiva a fim de diminuir diferenças, e não reativa como temos hoje.

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Emanoelle Cavalcanti

Acadêmica de psicologia, voluntária na Ong Médicos do Mundo

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