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Bartolina Sisa: a heroína que se tornou símbolo de resistência indígena

Bartolina Sisa, nascida em 1750 na região de Sullkawi, no atual território boliviano, foi uma mulher indígena aimará que se destacou como uma figura fundamental na resistência contra a colonização espanhola na América do Sul. Sua vida e seu legado simbolizam a luta dos povos indígenas pela autonomia e preservação de sua cultura diante da opressão colonial.

Desde jovem, Bartolina vivenciou as injustiças cometidas pelos colonizadores contra seu povo, incluindo a exploração econômica, o trabalho forçado e o desrespeito aos modos de vida ancestrais. Filha de comerciantes de coca e produtos agrícolas, Bartolina cresceu numa família que circulava por diferentes territórios e manteve contato com várias comunidades indígenas. Esse contexto a ajudou a desenvolver um profundo senso de identidade indígena e resistência à opressão espanhola.

Em 1781, ao lado de seu companheiro, o líder aimará Túpac Katari, Bartolina Sisa se envolveu ativamente em uma das maiores revoltas indígenas da história da América Latina. Eles lideraram uma insurreição contra o domínio espanhol na região conhecida como Alto Peru, que hoje corresponde à Bolívia. A revolta foi inspirada por movimentos semelhantes de resistência indígena em outros pontos do continente, como o liderado por Túpac Amaru II no Peru.

O momento mais marcante da revolta aconteceu quando Bartolina e Túpac Katari organizaram o cerco à cidade de La Paz. Com uma força de mais de 40 mil indígenas, o cerco durou cerca de seis meses, de março a outubro de 1781. Durante esse período, Bartolina foi uma figura de liderança militar e estratégica, organizando as forças indígenas e liderando batalhas. Ela desafiou não apenas o poder colonial, mas também as normas patriarcais da época, assumindo um papel de destaque em um contexto onde as mulheres raramente ocupavam posições de comando.

Infelizmente, o cerco foi rompido pelas forças coloniais, e Bartolina Sisa foi capturada. Após sua prisão, ela foi submetida a torturas brutais e, em 5 de setembro de 1782, foi executada de maneira cruel pelos colonizadores espanhóis. Bartolina foi enforcada, esquartejada e seu corpo foi exibido em público como uma tentativa de intimidar outros rebeldes indígenas.

No entanto, sua morte não representou o fim de sua luta. Pelo contrário, Bartolina Sisa se tornou um símbolo eterno de resistência para os povos indígenas da América Latina. Seu legado ecoa nas lutas contemporâneas por justiça social, direitos territoriais e a preservação das culturas indígenas.

Em 1983, durante o Segundo Encontro de Organizações e Movimentos da América, seu nome foi imortalizado com a criação do Dia Internacional da Mulher Indígena em sua homenagem. Bartolina Sisa continua sendo uma figura de inspiração, especialmente para as mulheres indígenas que seguem lutando por seus direitos e pela defesa de seus povos e territórios.

Hoje, a memória de Bartolina Sisa lembra a todos da importância de resistir à opressão e lutar pela liberdade e dignidade dos povos indígenas.

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa