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ComCausa e Funarj abrem diálogo sobre Museu da Baixada Fluminense

Desde 2009, a ComCausa tem desempenhado um papel crucial na preservação da memória e na busca por justiça em relação às violações ocorridas durante a ditadura civil-militar no Brasil. Inspirada pelo Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH3), a instituição propôs a transformação da antiga sede da 52ª Delegacia Distrital, localizada no centro de Nova Iguaçu, em um espaço de memória e em um Museu Sócio-Histórico da Baixada Fluminense. Essa iniciativa ganhou impulso especialmente após a criação da Comissão Nacional da Verdade em 2012, que levou a ComCausa a iniciar a articulação, junto à então Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH-PR) e à Secretaria Estadual de Segurança, para a destinação do prédio para essa finalidade.

Entretanto, o processo, que avançava até 2013, foi interrompido devido a uma série de obstáculos, incluindo o desgaste político durante o processo eleitoral de 2014, o impeachment de 2016 e a crise financeira do governo estadual em 2017.

Veja o vídeos do Café no Ponto da ComCausa no IFRJ de Nilópolis com a participação do Ministério da Cultura e da Comissão da Cultura da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), realizado em 2013:

Em 2018, o então deputado estadual André Ceciliano, presidente em exercício da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), retomou a ideia, propondo transformar o local em um museu de referência para as treze cidades da Baixada Fluminense, destacando seu patrimônio cultural, social, ecológico e humano. A área sugerida para esse projeto foi a antiga fábrica de Jeans Inega, na Via Dutra, em Nova Iguaçu, que havia sido desapropriada pelo Governo do Estado e estava sob a guarda da Defesa Civil, sendo utilizada como base para hospitais de campanha do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. Este seria o primeiro espaço de cultura, que ficaria sob administração do governo do estado, fora da capital para isso foi proposto uma interlocução com a Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro (Funarj).

No final de 2019, houve uma nova tentativa de retomar o projeto, mas a pandemia de 2020 impediu seu avanço. Além disso, o desmonte das políticas públicas voltadas para a cultura e direitos humanos durante o governo Bolsonaro enfraqueceu as articulações federais necessárias, e novamente não houve nenhuma movimentação pelo Museu da Baixada Fluminense.

Em 2022, a área da antiga fábrica foi reestruturada pelo governo do estado como sede do Rio Imagem na Baixada Fluminense, destinada ao atendimento hospitalar, o que adiou ainda mais o sonho de criação do museu.

Retomada pelo Museu da Baixada

Apesar dessas adversidades, a ideia de criar um espaço de memória na Baixada Fluminense permaneceu viva. Adriano Dias, jornalista e fundador da ComCausa, tem sido um dos principais articuladores desse projeto desde 2009, mantendo diálogo com autoridades públicas em diferentes esferas. Nesse sentido, nesta semana, Adriano esteve na sede da Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro (Funarj) para uma reunião com o chefe de gabinete da presidência, João Carlos, e o vice-presidente, Carlos Janan. Durante o encontro, a proposta de criação do museu foi discutida novamente, com a ComCausa sendo encarregada de encaminhar uma proposta formal à Funarj e promover um debate gradual sobre o tema com a sociedade.

“Estamos muito felizes com a forma como fomos recebidos e com o entusiasmo pela nossa proposta, que é fruto do trabalho de muitas pessoas ao longo desses mais de 10 anos. Apesar das dinâmicas políticas e econômicas terem inviabilizado o avanço do projeto, acreditamos que agora podemos, finalmente, dar os passos necessários para concretizar essa iniciativa tão importante para a memória e a história da Baixada Fluminense”, afirmou Adriano Dias.

Em dezembro, durante o ‘Jornal da Cultura de Direitos’, que a ComCausa realiza todos os anos, será lançada a campanha pelo Museu da Baixada Fluminense. Mas Adriano ressaltou que a instituição aguardará a composição dos novos gestores dos municípios da Baixada Fluminense para iniciar uma interlocução entre os 13 municípios, o governo do estado e o governo federal, visando à implantação do Museu da Baixada Fluminense. “Esta é uma luta de vários anos, mas, se não a retomarmos, nunca será concretizada. Estamos muito animados e acreditamos que a sociedade da Baixada merece este farol de luz sob essa rocha dura que é a Baixada Fluminense”, concluiu Adriano Dias.

A reabertura da discussão pela Funarj renova as esperanças de que, finalmente, um espaço dedicado à preservação da memória e da história da Baixada Fluminense possa se tornar realidade, resgatando e valorizando as raízes culturais e sociais de uma região tão rica e significativa.

Museu na Baixada foi um dos temas da entrevista com Adriano da ComCausa

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa