O padre João Bosco Penido Burnier, jesuíta e defensor dos direitos humanos, foi assassinado em 12 de outubro de 1976 por um policial militar, enquanto defendia duas mulheres que estavam sendo torturadas em uma delegacia de Ribeirão Cascalheira, Mato Grosso. Burnier estava acompanhado do bispo Pedro Casaldáliga quando chegou à delegacia. Antes de ser baleado na nuca, ele foi agredido com um soco e uma coronhada.
Burnier, membro do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), dedicava-se ao trabalho pastoral junto a camponeses e indígenas, denunciando violências cometidas por latifundiários e agentes públicos. Seu assassinato aumentou a tensão entre a ditadura militar e a hierarquia católica, que denunciou o crime durante as missas dominicais. A reação ao crime desencadeou protestos de estudantes em várias universidades.
Em dezembro de 2009, a Comissão Nacional de Mortos e Desaparecidos reconheceu a responsabilidade do Estado pela morte de João Bosco Penido Burnier. A ata da Comissão Especial para os Mortos e Desaparecidos Políticos do Ministério da Justiça, publicada no “Diário Oficial da União”, afirma que Burnier “morreu por causas não naturais em dependências policiais por ter participado ou ter sido acusado de participação em atividades políticas”. O policial que atirou no padre nunca foi processado, pois o regime considerou o fato um acidente.
Pedro Casaldáliga, então bispo de São Félix do Araguaia (MT), testemunhou o homicídio e relata que Burnier teve uma grande discussão com os policiais, ameaçando denunciá-los na Justiça antes de ser agredido e morto. Após a missa de sétimo dia pela morte do padre, a população de Ribeirão Cascalheira realizou uma procissão até a delegacia, arrombou as portas e libertou os presos. Posteriormente, foi construída uma igreja no local, apesar da oposição da polícia.
Burnier nasceu em 11 de junho de 1917 em Juiz de Fora, sendo o quinto de nove irmãos, dos quais dois também se dedicaram à vida religiosa, incluindo Vicente Burnier, o primeiro sacerdote surdo do Brasil. Formado em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma, onde foi ordenado padre em 1946, Burnier destacou-se por sua atuação em defesa dos índios e foi membro do Cimi, organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Nos últimos anos de vida, Burnier trabalhou como missionário em Diamantino (MT), onde cuidava de membros das etnias Bakairi e Xavante, cujas línguas conhecia e falava. Seu legado é lembrado em escolas e organizações de defesa dos direitos humanos que levam seu nome em Minas Gerais e Mato Grosso. Além disso, sua vida e martírio são tema de livros, como “Martírio do padre João Bosco Penido Burnier”, de dom Pedro Casaldáliga, e “Mártir pela justiça”, do padre Pedro Américo Maia.
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