Campanhas

Memória: Chacina de Nova Brasília

Neste dia 18 de outubro, lembramos a Chacina de Nova Brasília, que permanece como um dos episódios mais trágicos da história recente do Brasil. Em 1994, 13 jovens foram brutalmente assassinados por agentes da polícia no Complexo do Alemão, um evento que não apenas chocou a sociedade, mas também expôs a grave situação de violência e as violações de direitos humanos enfrentadas pelas comunidades periféricas.

A Chacina de Nova Brasília ocorreu em um cenário de crescente tensão e violência policial nas favelas do Rio de Janeiro. A operação, que tinha como suposto objetivo combater o tráfico de drogas, resultou em uma ação desproporcional e letal que ceifou vidas inocentes e deixou famílias em luto. Além das mortes, pelo menos três mulheres relataram tortura e abuso sexual por parte dos policiais, evidenciando a brutalidade que permeia o relacionamento entre a polícia e as comunidades.

Investigações e Impunidade

Desde a tragédia, as investigações sobre a Chacina foram repletas de confusões e falta de clareza. Em 2009, o Ministério Público decidiu arquivar o processo, alegando prescrição. O inquérito só foi reaberto em 2013, mas em 2021, cinco policiais (quatro civis e um militar) foram absolvidos no Tribunal do Júri por unanimidade, sob a alegação de falta de provas. Essa impunidade reflete a difícil luta por justiça que as famílias das vítimas enfrentam.

Reconhecimento Internacional

Em 2017, o Brasil foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos devido à violência policial relacionada à Chacina. A Corte considerou que houve violações das garantias e proteção judiciais, além de falta de investigação e de proteção aos direitos das famílias das vítimas. Como parte da condenação, foi exigido que o estado do Rio elaborasse um plano para reduzir a letalidade policial, que, até hoje, continua alarmantemente alta.

A Violência Persistente

Desde a Chacina de Nova Brasília, o Brasil testemunhou pelo menos 16 chacinas notáveis, incluindo a Chacina do Jacarezinho, que resultou em 28 mortes, e a Chacina da Vila Cruzeiro, com 24 mortos. O que evidencia a continuidade da violência e a necessidade urgente de abordagens mais humanas e efetivas para a segurança pública nas favelas.

O Papel da Defensoria Pública e da Sociedade Civil

Em 2020, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro se uniu à ADPF 635, conhecida como ADPF das Favelas, uma ação que busca reduzir a letalidade policial e garantir os direitos dos moradores das comunidades mais afetadas pela política de segurança pública. Mais de 40 instituições fazem parte dessa luta, que se enfrenta com frequente descumprimento das normas por parte de agentes públicos.

A Memória e a Luta por Justiça

A Chacina de Nova Brasília não deve ser esquecida. É fundamental que a sociedade civil continue a lutar por justiça e reconhecimento para as vítimas. A memória da Chacina deve servir como um lembrete constante da necessidade de um Brasil mais justo, onde a dignidade humana e os direitos fundamentais sejam respeitados.

Neste 18 de outubro, ao lembrarmos da Chacina de Nova Brasília, reforçamos a importância de manter viva a memória das vítimas e de exigir accountability por parte das autoridades. A luta por justiça é uma responsabilidade coletiva que não pode ser ignorada, e é essencial para a construção de um futuro mais seguro e equitativo para todos os brasileiros.

Leia também:

Chacina de Nova Brasília completa 30 anos sem respostas

Editoria Virtuo Comunicação

Projeto Comunicando ComCausa

Portal C3 | Instagram C3 Oficial

______________

 

 

Compartilhe:

João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa