Nova Iguaçu

Moradores protestam contra falta d’agua e cobram soluções da Águas do Rio

Na manhã desta sexta-feira, 27 de setembro de 2024, moradores de Tinguá e regiões próximas se reuniram em protesto em frente à unidade da empresa Águas do Rio, localizada no centro do bairro Tinguá. O movimento foi motivado pela falta contínua de água, que tem afetado famílias locais, especialmente aquelas que vivem ao redor da Reserva Biológica de Tinguá (REBIO Tinguá), onde estão situadas diversas captações de água conhecidas como “linhas pretas”, estruturas históricas com mais de 200 anos de existência.

O protesto destacou o impacto da falta de água nas famílias da região, muitas das quais estão há semanas sem fornecimento regular, enfrentando grandes dificuldades para realizar suas atividades diárias. A situação tem afetado especialmente os mais vulneráveis, como idosos, pessoas com deficiência e crianças.

Paula Martins, moradora de Tinguá, compartilhou sua luta diária para cuidar de seu filho de 8 anos, que tem paralisia cerebral. Ela revelou que tem recorrido à água de cachoeiras para realizar o banho do filho devido à falta de abastecimento em sua casa. “A água que chega pinga, mal conseguimos encher a caixa d’água que fica no chão. Já são mais de 15 dias sem água, e estamos comprando água mineral para beber. É uma situação desesperadora, especialmente para quem tem um filho com deficiência”, desabafou Paula.

Outro morador, Rosimar, que trabalha na Secretaria de Saúde, relatou as dificuldades enfrentadas por pessoas debilitadas. “Trabalho com cadeirantes e idosos, e a falta de água afeta diretamente essas pessoas. Precisamos de água para higiene e cuidados diários, mas há mais de 15 dias que estamos nessa situação, e só conseguimos captar o mínimo de água para o básico, como banhos”, afirmou Rosimar.

O representante da ComCausa, Adriano Dias, que esteve com os manifestantes, expressou solidariedade à causa dos moradores. Ele afirmou que a organização está estudando medidas legais que podem ser tomadas para responsabilizar a Águas do Rio pelos danos causados à população. “A Águas do Rio, como empresa privada que assumiu a responsabilidade de fornecer um bem insubstituível, que é o direito humano à água, precisa reparar esse dano. Estamos avaliando quais ações legais podemos orientar junto aos moradores para garantir que seus direitos sejam respeitados”, disse Adriano.

Águas do Rio não se pronunciou sobre solução

Segundo os moradores, até o momento, a Águas do Rio não se pronunciou sobre a solução dos problemas enfrentados pelos moradores de Tinguá. A comunidade espera uma resposta oficial e ações concretas para resolver a situação.

Histórico de manifestações

A insatisfação com a Águas do Rio tem levado a uma série de manifestações recentes na região. No dia 11 de setembro, moradores de Carro Quebrado queimaram pneus e bloquearam uma rua em frente ao Varandão do Vovô, em protesto contra a falta de água. No dia 14 de setembro, uma manifestação pacífica ocorreu na Ponte Grande, também em Tinguá, com o mesmo objetivo: exigir a regularização do abastecimento de água.

Nas redes sociais, Fábio Baldez, morador de Tinguá, criticou duramente a empresa. Ele acusou a Águas do Rio de desviar água para áreas turísticas, em detrimento dos moradores locais. “Estamos sendo sabotados! Privatizou, virou negócio. Estão desviando nossa água para sítios e fazendas que lucram com o turismo, enquanto nós, a população, ficamos sem. Isso nunca aconteceu antes da privatização”, afirmou Baldez.

Privatização e aumento das reclamações

Desde a privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), em abril de 2021, o serviço de abastecimento de água na Baixada Fluminense tem sido alvo de críticas crescentes. A Águas do Rio, empresa que assumiu a gestão, tem enfrentado um aumento significativo nas reclamações, que envolvem desde interrupções frequentes no abastecimento até o aumento abusivo nas tarifas.

Segundo dados do Procon-RJ, as queixas contra a Águas do Rio aumentaram 564% desde o início de 2022. Em muitos casos, as contas continuam chegando, mesmo com o fornecimento de água interrompido por semanas, gerando indignação entre os moradores.

Convocação para novos protestos

Os moradores de Tinguá planejam novas ações e protestos para pressionar a Águas do Rio e as autoridades locais a resolverem a crise de abastecimento de água. O problema, que se arrasta há semanas, é visto como um reflexo de uma gestão ineficiente e de promessas não cumpridas após a privatização. Os moradores seguem mobilizados para garantir que o acesso à água, um recurso vital, seja normalizado na região.

Enquanto isso, a expectativa é que a empresa tome providências imediatas para corrigir a situação e evitar novos protestos, que podem se intensificar nos próximos dias.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa