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Priscila Belford: o drama das famílias de desaparecidos e a ausência da sensibilidade e ações públicas

Há alguns anos, tive a oportunidade de conhecer pessoalmente Jovita Belfort, mãe de Priscila Belfort, uma das muitas vítimas do drama do desaparecimento no Brasil. Embora já estivesse familiarizado com o trágico episódio ocorrido em 2004, conhecê-la de perto intensificou a minha compreensão sobre a dor que acompanha essa família há tanto tempo e que se soma a de outras tantas que enfrentam a mesma situação, e que também vim a conhecer pelo trabalho na ComCausa.

Na madrugada deste último domingo, decidi maratonar o seriado documental “Volta Priscila”, apesar dos conselhos de amigos próximos para que evitasse o programa, dada a carga emocional envolvida. No entanto, sabia que não poderia deixar de assistir e, como esperado, mais uma noite de sono perdida. O documentário, que recomendo a todos que assistam, é um retrato impactante de como o desaparecimento de Priscila afetou profundamente sua família e de como essa tragédia abriu um leque de situações dramáticas.

Priscila é uma vítima visível em grande parte graças à notoriedade de sua família, mas também por conta da luta incansável de sua mãe, Jovita, de seu irmão, o lutador Vitor Belfort, e de seu pai. Entretanto, essa visibilidade não se estende a todos os casos. Vivemos em um Rio de Janeiro dos desaparecidos, onde a falta de políticas públicas específicas para abordar essa questão deixa um vazio enorme para as famílias que passam por esse luto interminável.

A questão dos desaparecidos no Brasil não é nova. Durante os anos da ditadura militar, famílias de vítimas políticas já enfrentavam a angústia de não saber o paradeiro de seus entes queridos. Anos depois, a realidade não é muito diferente. Casos como o de Priscila Belfort se misturam a outros desaparecimentos relacionados ao crime organizado, deixando as famílias em um estado de especulação e incerteza. O desaparecimento se torna um luto contínuo, um ciclo de dor que não termina, porque não há um corpo para enterrar, nem uma história conclusiva para contar.

O documentário “Volta Priscila” revela mais do que a história de uma jovem desaparecida. Ele escancara as falhas de um sistema que não oferece suporte adequado às famílias que enfrentam essa tragédia. Para aqueles que, como Priscila, foram levados pela violência urbana, a falta de respostas é apenas mais um indicativo de que o problema é sistêmico. A ausência de políticas públicas efetivas para lidar com os desaparecimentos reforça a ideia de que, para o poder público, essas vidas são invisíveis.

Com o passar dos anos, o drama dos desaparecidos no Rio de Janeiro se intensificou, envolvendo casos históricos, como as vítimas da ditadura, e também os desaparecidos recentes, frequentemente relacionados à atuação de grupos criminosos. O luto por uma pessoa desaparecida é um luto suspenso, sem conclusão, sem espaço para a cura. Entre as perdas e os poucos “achados”, a luta dessas famílias continua, muitas vezes solitária, na busca por respostas.

A história de Priscila é uma entre milhares de casos de pessoas desaparecidas no Rio de Janeiro, e o desfecho ainda inconcluso é um retrato da desorientação das autoridades no enfrentamento desse problema.

Minha solidariedade permanece com essas famílias, como a de Priscila Belfort, que, mesmo diante de um longo caminho de dor e incertezas, continuam a lutar pela verdade e pela justiça.

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Adriano Dias

Jornalista militante e fundador da #ComCausa