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Revolta de Carrancas: A Insurreição dos Escravizados em Minas Gerais

Em 13 de maio de 1833, uma rebelião de escravizados eclodiu nas propriedades da família Junqueira, ao sul da província de Minas Gerais. Conhecida como Revolta de Carrancas ou Levante de Bella Cruz, a revolta começou na fazenda Campo Alegre, pertencente a Gabriel Francisco Junqueira, e rapidamente se estendeu para a fazenda Bella Cruz.

Contexto Histórico

O início do século XIX foi marcado por um aumento significativo no tráfico de africanos escravizados para o Brasil, o Caribe e Cuba. No Brasil, o Rio de Janeiro importou mais de um milhão de escravizados, seguido pela Bahia com quase 400 mil e Pernambuco com cerca de 200 mil. Minas Gerais, altamente dependente da mão de obra escravizada, absorveu 48% da população africana que chegava ao Brasil entre 1825 e 1833.

A região centro-sul do Império Brasileiro viu um crescimento da população escravizada e foi palco de diversas insurreições, como a Revolta dos Malês na Bahia e a Revolta de Manuel Congo no Rio de Janeiro. Em Minas Gerais, o período regencial foi marcado por conflitos entre liberais e restauradores, e a Revolta de Carrancas ocorreu nesse contexto de instabilidade.

Antecedentes

A freguesia de Carrancas tinha uma grande população escravizada de origem africana, representando mais de 60% em algumas áreas. A região, voltada para o abastecimento e próxima a rotas comerciais, dependia intensamente do tráfico de escravizados. As fazendas da família Junqueira, como Campo Alegre e Bella Cruz, abrigavam grandes números de escravizados, muitos deles africanos centro-ocidentais.

Em 1831, uma tentativa de revolta foi ensaiada na região, incitada por rumores de que o ex-imperador libertaria os escravizados. O vigário local, acusado de incentivar esses boatos, foi preso, e a revolta foi abortada.

O Levante

A Revolta de Carrancas teve início na Fazenda Campo Alegre, onde os escravizados, liderados por Ventura Mina, atacaram e mataram Gabriel Francisco de Andrade Junqueira, filho do deputado Gabriel Francisco Junqueira. Os revoltosos então se dirigiram à Fazenda Bella Cruz, onde assassinaram membros da família Junqueira, incluindo três crianças.

Parte dos revoltosos preparou uma emboscada na fazenda, enquanto outros seguiram para a Fazenda Bom Jardim, onde encontraram resistência. Os líderes da revolta, como Ventura Mina e João Inácio Firmino, foram mortos nesse confronto.

Na Fazenda Bella Cruz, a situação foi particularmente grave. José Francisco Junqueira, sua esposa e outros familiares foram brutalmente assassinados. Os revoltosos usaram armas como machados e foices, causando cenas de extrema violência.

Desdobramentos

A Revolta de Carrancas expôs a insatisfação dos escravizados e sua capacidade de organização. As autoridades intensificaram a vigilância em outras propriedades para prevenir novas insurreições. Em várias regiões, medidas preventivas foram adotadas para evitar a propagação da revolta.

Os rebeldes foram severamente punidos. Dezesseis foram condenados à morte por enforcamento, em uma das maiores penas coletivas da história do Brasil. Apenas um dos condenados, Antônio Resende, conseguiu escapar da execução, colaborando como carrasco de seus companheiros.

A Revolta de Carrancas teve um impacto significativo, levando à aprovação de leis mais rígidas contra insurreições escravizadas. A brutal repressão visava não apenas punir os revoltosos, mas também dissuadir futuras rebeliões, deixando uma marca profunda na história da escravidão no Brasil.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa