A indústria da moda e o papel essencial das costureiras: desafios e caminhos para a valorização

Costureiras Costura

A indústria da moda reflete o imaginário humano, traduzindo conceitos e tendências em peças de vestuário que impactam cultural, social e economicamente. Contudo, a base que sustenta esse universo glamouroso — as costureiras — é frequentemente negligenciada, enfrentando desvalorização, baixos salários e, em muitos casos, condições de trabalho análogas à escravidão. Essa realidade tem implicações graves para o setor, incluindo a escassez de novos profissionais e a falta de incentivo para a continuidade dessa profissão essencial.

A costura é a etapa final na criação de uma peça de roupa, o momento em que ideias ganham forma e funcionalidade. É nessa fase que conceitos são postos à prova, confirmando sua viabilidade prática. Apesar de sua importância, as costureiras raramente recebem o reconhecimento devido. No Brasil, a maioria atua como terceirizada, recebendo valores irrisórios pela produção em massa, enquanto as peças são vendidas com margens de lucro que ultrapassam 200%. Essa exploração desmotiva a classe e afasta estudantes de moda da prática da costura, perpetuando a visão de que essa área está em decadência.

Para reverter esse cenário, é essencial implementar estratégias que valorizem as costureiras e restabeleçam o equilíbrio na cadeia produtiva da moda. Um dos primeiros passos é a capacitação profissional, com foco em empreendedorismo e economia solidária. Muitas costureiras, especialmente aquelas de pequenas confecções ou que atuam como microempreendedoras individuais, enfrentam desafios como a falta de recursos para investir em melhores condições de trabalho. Oferecer acesso a crédito e promover cursos técnicos pode ser uma solução eficaz. Esses cursos devem incluir não apenas habilidades técnicas, mas também competências em gestão financeira, empreendedorismo e direitos trabalhistas. A introdução de modelos de economia solidária pode fortalecer o trabalho coletivo e aumentar a autonomia das costureiras, promovendo alternativas sustentáveis e justas de produção.

Outro ponto crucial é a redistribuição de valores salariais dentro das equipes de produção. Garantir uma remuneração justa é essencial para que as costureiras tenham condições dignas de trabalho e se sintam valorizadas. Além disso, essa medida incentivaria a transferência de conhecimento para futuras gerações, assegurando a preservação do papel da costura na cultura e na economia.

Adicionalmente, é necessário abordar as questões de gênero que permeiam o cotidiano das costureiras, majoritariamente mulheres. Muitas enfrentam formas sutis e graves de violência de gênero, desde a falta de reconhecimento até assédio e exploração no trabalho. Promover debates e ações que contemplem essas questões é fundamental para criar ambientes de trabalho mais seguros e inclusivos. Essas iniciativas devem abordar temas como igualdade de oportunidades, combate às violências e promoção de espaços que respeitem e valorizem o papel feminino na cadeia produtiva da moda.

Por fim, é imprescindível intensificar a fiscalização para combater o trabalho precário. O modelo de fast fashion, que prioriza a produção em massa a baixos custos, tem agravado a exploração de trabalhadoras. Empresas globais como a Shein, frequentemente acusadas de condições degradantes de trabalho, exemplificam o impacto negativo desse sistema. O envolvimento de organizações internacionais, como a ONU, e de autoridades locais é essencial para garantir a proteção dos direitos das trabalhadoras. Operações regulares de fiscalização podem assegurar que as peças sejam produzidas com mão de obra justa, ainda que isso resulte em preços finais mais elevados.

A moda é tanto um reflexo da sociedade quanto um motor de transformação cultural. Valorizar as costureiras não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia necessária para a sustentabilidade da indústria. A combinação de ações integradas — redistribuição salarial, capacitação em empreendedorismo e economia solidária, debates sobre violência de gênero e fiscalização efetiva — é o caminho para construir um setor mais ético, inclusivo e próspero. Afinal, não há glamour sem as mãos habilidosas que transformam ideias em realidade.

Imagem de capa ilustrativa.

| Thamiris Moreira é designer de moda, figurinista e produtora.

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