No último dia 14 de março, uma reunião foi realizada junto ao mandato do vereador Edson Santos com o objetivo de discutir iniciativas em prol do reconhecimento do marinheiro João Cândido, conhecido por sua liderança na Revolta da Chibata.
O encontro contou com a participação de representantes dos movimentos sociais que atuam pela reparação histórica do marinheiro João Cândido, incluindo a ComCausa, e resultou no encaminhamento para a realização de uma Sessão Solene em homenagem a este herói brasileiro, bem como a concessão de moções à direção da Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, que abordou a história de João Cândido e o tema da luta contra o racismo em seu desfile de 2024.
O vereador Edson Santos comprometeu-se a solicitar à Câmara de Vereadores o agendamento de uma data para a realização dessas atividades e a ComCausa sugeriu a semana de 8 a 10 de abril para a realização da solenidade, desde que haja disponibilidade na agenda cerimonial da Câmara.
Campanha nos 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo
As datas propostas integram um período especialmente significativo, os “21 Dias de Ativismo Contra o Racismo“, que ocorrem de 21 de março a 10 de abril. Durante este período, a ComCausa, organização engajada na promoção da igualdade racial, realizará uma campanha pela aprovação do Projeto de Lei do Senado n° 340, de 2018, que busca reconhecer João Cândido como herói nacional. Este projeto foi remetido à Câmara dos Deputados em 17 de novembro de 2021 e está parado.
Articulação com a Bancada Negra
Além disso, representantes do movimento social e a ComCausa estarão em Brasília no final de abril para conversar com deputados da Bancada Negra a fim de solicitar uma articulação para que o PL 340/2018 entre em pauta e seja votado ainda este ano para que João Cândido seja incluído no Livro de Heróis Nacional.
A ComCausa, organização dedicada à promoção dos direitos humanos, teve participação ativa no desfile juntamente com outros movimentos sociais. O atual presidente da instituição, Rodrigo Ferreira, e o fundador, Adriano Dias, integraram uma das alas, reforçando o compromisso da ComCausa com o tema abordado pela Paraíso do Tuiuti.
Adriano Dias da ComCausa comentou: “O desfile da escola não foi apenas um espetáculo de entretenimento, mas também uma manifestação artística e política, destacando a importância de manter viva a memória de João Cândido e a luta por justiça e igualdade”.
A importância de reconhecer e reparar a história de João Cândido
A relevância de reconhecer e reparar a história de João Cândido é cada vez mais evidente nos dias de hoje. Durante anos, um movimento crescente tem clamado pelo reconhecimento do papel fundamental desempenhado por este marinheiro corajoso na luta contra o racismo e na busca pela dignidade dos praças da Marinha brasileira. Como líder da Revolta da Chibata, de novembro de 1910, João Cândido desafiou os abusos e a brutalidade perpetrados pelo Estado brasileiro contra seus próprios cidadãos. Embora sua resistência tenha sido registrada na história, foi negligenciada a luta pessoal de João Cândido por uma qualidade de vida digna para si e sua família diante de toda a perseguição que o Estado Brasileiro fez a ele.
Cidadão da Baixada
Após os eventos da Revolta da Chibata, João Cândido viveu seus últimos anos em São João de Meriti, distante do mar que tanto amava. No entanto, sua vida continuou a ser assombrada pela perseguição, inclusive até sua morte. Mesmo durante seu funeral, em 1969, durante os tempos sombrios da ditadura militar pós AI-5, havia temores entre amigos e familiares de serem alvos do regime opressivo, conforme contou seu filho, o Sr. Candinho. Este aspecto sombrio destaca a persistência do clima de medo e vigilância que a família de João Cândido enfrentou ao longo de suas vidas.
Início do reconhecimento e reparação
Após a redemocratização nos anos 1980, começou um processo gradual de reconhecimento que ganhou força durante o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, nos primeiros anos de 2000. Mais recentemente, membros de diversos movimentos sociais, especialmente da Baixada Fluminense, têm se dedicado a contribuir para a reparação histórica devida a João Cândido. Entre os avanços alcançados, destaca-se o reconhecimento de João Cândido como herói municipal, com uma medalha em seu nome concedida pela Câmara de São João de Meriti, e sua inclusão no livro de heróis e heroínas do estado do Rio de Janeiro. Sua estátua, inaugurada nos anos 2000, foi reposicionada em um local de destaque. No entanto, ainda há muito a ser feito, especialmente em termos de reconhecimento nacional e reparação para seus descendentes, que continuam a carregar o fardo da história marcada pela perseguição e sofrimento enfrentados por toda a família de João Cândido.
Na noite que se estendeu da segunda para a terça-feira de Carnaval, a Paraíso do Tuiuti emocionou a audiência no Sambódromo do Rio de Janeiro com um desfile dedicado a João Cândido, o Almirante Negro que liderou a Revolta da Chibata em 1910. Sob o enredo “Glória ao Almirante Negro”, a agremiação de São Cristóvão apresentou-se na avenida com uma performance que combinou emoção e tema político.
O tema “Glória ao Almirante Negro” foi abordado entrelaçando a história de João Cândido com questões antigas, contemporâneas e a defesa dos direitos humanos. A escola transmitiu uma mensagem impactante sobre a necessidade de resistir às injustiças e promover a igualdade, utilizando o marinheio como símbolo dessa resistência.
O desfile trouxe várias representações da figura de João Cândido, com destaque para a presença de seu único filho ainda vivo, o senhor Candinho, residente em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Além disso, abordou temas como injustiça e preconceitos, estabelecendo paralelos com casos contemporâneos, como o de Max Ângelo Alves dos Santos, vítima de agressão em 2023. Max, presente no desfile, expressou sua gratidão pelo convite e enfatizou a importância de combater essas violências, transformando o evento em não apenas um espetáculo cultural, mas também um espaço de conscientização e reflexão.
A importância de reconhecer e reparar a história de João Cândido