Uma pesquisa recente conduzida na Zona Oeste do Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense aponta que 75% dos terreiros de religião de matriz africana foram alvo de algum tipo de violência. Os resultados do estudo, realizado pela Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJRacial), uma organização não governamental dedicada a promover debates e atividades na Baixada Fluminense, revelam também que a segurança pública é uma questão frequentemente discutida pelos frequentadores desses locais.
A pesquisa, desenvolvida em parceria com o Centro Cultural de Tradições Afro-brasileiras Yle Asé Egi Omim, sediado no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, divulgou um relatório intitulado “Egbé” neste sábado (30). A palavra, de origem iorubá, significa sociedade ou comunidade.
O estudo focou nessas duas regiões devido ao aumento significativo de ataques a terreiros de religião de matriz africana nos últimos anos. A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) registrou, até 2019, cerca de 200 casos de ataques a casas de axé, incluindo a zona norte da capital fluminense. No entanto, os investigadores acreditam que o número real pode ser ainda maior devido à subnotificação.
As reveladas documentadas incluem ameaças, lesões raciais, agressões físicas e até mesmo expulsões de territórios determinados por milícias ou organizações de tráfico. A pesquisa destaca casos emblemáticos, como a invasão e depredação da casa Xwe Nokun Ayono Avimaje, fundada há 10 anos em Nova Iguaçu, que foi alvo de ataques três vezes. Além disso, foram registradas liberdades religiosas, como a imposição de horários restritos para a realização de rituais sagrados.
O estudo buscou compreender como as comunidades percebem a política de segurança pública diante dessa realidade. A metodologia incluiu grupos focais realizados ao longo de um mês, com 10 a 12 participantes cada, em quatro casas de axé em Nova Iguaçu e na zona oeste da capital fluminense. Além disso, um formulário online foi preenchido pelas lideranças dos terreiros envolvidos, proporcionando um perfil dos terreiros, que têm, em média, 11 anos de existência em seus territórios.
Os resultados revelaram um total descrédito nas instituições policiais para fins de proteção e segurança, com denúncias muitas vezes minimizadas pelas autoridades. Patrick Melo, coordenador do estudo, destaca que as manifestações estão diretamente relacionadas à missão do Estado na defesa dos direitos humanos e dos povos de religião de matriz africana. Ele enfatiza a preocupação constante com a segurança pública no cotidiano dessas populações e a necessidade de se organizarem autonomamente para enfrentar a situação.
O pesquisador destaca ainda que os registros policiais refletem uma incapacidade do Estado em considerar que os episódios de envolvimento de manifestações de ódio contra essas comunidades religiosas. Ele ressalta que os territórios estão sendo cada vez mais dominados por grupos criminosos que perseguem aqueles que não seguem a fé cristã. Essa associação entre crime e fé cristã tem chamado a atenção de especialistas em segurança pública, apontando uma problemática complexa que exige uma abordagem mais ampla.
O que é racismo religioso?
O racismo religioso é uma manifestação de preconceito e discriminação baseada na afiliação religiosa de uma pessoa. Isso ocorre quando indivíduos são discriminados, marginalizados ou tratados de maneira injusta com base em suas crenças religiosas ou afiliações religiosas percebidas. Assim como o racismo étnico ou racial, o racismo religioso é uma forma de intolerância que pode ter sérias ramificações sociais, políticas e econômicas.
Raízes do Racismo Religioso:
- Ignorância e Falta de Educação:
- O racismo religioso muitas vezes tem suas raízes na falta de conhecimento e compreensão sobre as diversas discussões e práticas religiosas. A ignorância pode levar à formação de estereótipos específicos e falsas percepções.
- Conflitos Históricos:
- Conflitos históricos entre grupos religiosos podem alimentar o racismo religioso ao longo do tempo. A transmissão intergeracional de preconceitos contribui para a persistência dessas atitudes discriminatórias.
- Poder e Controle:
- Em alguns casos, o racismo religioso é usado como uma ferramenta para manter o poder e o controle. A manipulação das diferenças religiosas pode ser explorada por líderes políticos ou grupos dominantes para consolidar sua posição.
Manifestações de Racismo Religioso:
- Discriminação Social:
- Indivíduos podem enfrentar discriminação em suas vidas cotidianas com base em suas crenças religiosas. Isso pode incluir preconceitos no local de trabalho, na escola ou nas interações sociais.
- Violência:
- Em casos extremos, o racismo religioso pode levar à violência. Atentados, perseguições e conflitos armados podem ocorrer como resultado da intolerância religiosa.
- Legislação Discriminatória:
- Algumas sociedades podem implementar leis que discriminam ou marginalizam determinadas comunidades religiosas, negando-lhes direitos fundamentais e igualdade à lei.
Combate ao Racismo Religioso:
- Educação e Sensibilização:
- Promover a educação e a sensibilização é crucial para combater o racismo religioso. Incluir estudos religiosos nas escolas e promover o diálogo inter-religioso pode ajudar a construir pontes de compreensão.
- Legislação Anti-Discriminação:
- A implementação de leis que proíbem a discriminação com base na religião é fundamental. Isso fornece uma base legal para responsabilizar aqueles que perpetuam o racismo religioso.
- Diálogo Inter-Religioso:
- Encorajar o diálogo e a cooperação entre diferentes comunidades religiosas pode promover a compreensão mútua e ajudar a quebrar estereótipos específicos.
- Mídia Responsável:
- A mídia desempenha um papel significativo na formação de opiniões. Uma cobertura justa e equilibrada das questões religiosas pode ajudar a combater estereótipos específicos.
Conclusão:
O combate ao racismo religioso requer esforços coletivos em níveis individual, comunitário, nacional e internacional. A promoção da diversidade religiosa e da tolerância é essencial para a construção de sociedades mais justas e inclusivas. Ao considerar e abordar as raízes profundas do racismo religioso, podemos aspirar a um mundo onde a liberdade de crença seja respeitada e valorizada.