O preconceito premeia a sociedade, e a cultura pop não foge a essa regra. Um caso é o do novo filme de Adão Negro que estreou nos cinemas brasileiros no dia 20/10/2022.
O longa arrecadou mais de 26 milhões de dólares nos primeiros dias. Mas o que chamou a atenção da internet não foi somente Dwayne Johnson estrelando no universo cinematográfico da DC, e sim o personagem Gavião Negro, que ganhou uma versão interpretada pelo ator negro Aldis Hodge. O personagem foi alvo de falas racistas.
Mas antes vamos entender o que é racismo estrutural.
O que é racismo estrutural?
É essa naturalização de ações, hábitos, situações, falas e pensamentos que já fazem parte da vida cotidiana do povo brasileiro, e que promovem, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial. Um processo que atinge tão duramente — e diariamente — a população negra.
No cotidiano da sociedade brasileira estão normalizadas frases e atitudes de cunho racista e preconceituoso. São piadas que associam negros e indígenas a situações vexatórias, degradantes ou criminosas. Ou atitudes baseadas em preconceitos, como desconfiar da índole de alguém pela cor de sua pele.
As questões raciais são estruturantes porque fazem parte da construção das nossas sociedades. As subjetividades que nos compõem — os nossos preconceitos, por exemplo — acabam construindo as relações sociais que estabelecemos. E essas relações estão impregnadas de uma construção histórica equivocada, que mantém a população negra em posição de subalternidade.
Silvio Almeida, autor de “O que é racismo estrutural”, longe de ser uma anomalia, o racismo é “o normal”: “Independentemente de aceitarmos o racismo ou não, ele constitui as relações no seu padrão de normalidade”.
Esse equívoco de narrativa resulta na desvalorização da cultura, intelecto e história da população negra. Mina suas potencialidades e, principalmente, aumenta o abismo criado por desigualdades sociais, políticas e econômicas.
É um problema evidenciado por números. No Brasil, por exemplo, pessoas negras são mortas com mais frequência que pessoas não negras: os negros representam 75% das vítimas de homicídio, segundo o Atlas da Violência de 2019. São maioria, também, em meio à camada mais pobre da população: dos 10% de brasileiros mais pobres, 75% são negros, segundo o IBGE.
Racismo no filme Adão Negro
Nesta adaptação para os cinemas, Gavião Negro é um homem de cor de pele negra e milionário, ao ponto de ter uma mansão, jato particular e sua própria equipe de super-heróis. Essa mudança na história do personagem gerou polêmica na internet, envolvendo influenciadores digitais.
O youtuber Ricardo Rente, que possui canal com mais de 138 mil inscritos, foi acusado de fala racista ao declarar que
“acha curioso um homem negro morar numa mansão”,
ele complementa e diz que achava que a mansão pertencia ao personagem Senhor Destino, interpretado pelo ator branco Pierce Brosnan.
“Quando eu vi que era do Gavião Negro eu pensei: Como que um cara negro conseguiu tudo isso?”.
Os comentários foram feitos durante um episódio do podcast Cinemou, transmitido na última quinta-feira (20).
Após a fala, Ricardo foi duramente criticado pelos internautas por meio do Twitter. O influenciador digital chegou a gravar uma resposta em vídeo explicando a sua fala.
“Eu não disse que uma pessoa negra não pode ser rica, o que eu disse foi: dado o histórico racista da humanidade, como um cara negro conseguiria ter aquelas posses?”. Ele afirma que sua crítica é direcionada à mudança de cor de pele que fizeram com o personagem, que nas histórias em quadrinhos é um homem branco. “Você trocar a cor de pele do personagem e nada mudar a respeito dele é um desserviço àquele personagem”, afirmou Ricardo Rente.
Alexandre Almeida, coapresentador ao lado de Ricardo, veio à público, por meio de sua conta no Twitter, pedir desculpas aos internautas pelas falas supostamente racistas:
“Peço desculpas novamente pelo ocorrido e tenho certeza que aprenderei com isso tudo”.
O pedido de desculpas de Ricardo Rente acabou sendo pior do que a primeira declaração. Muito provavelmente nem sabe que está cometendo um ato racista. E também desconhece as raízes africanas do personagem nas HQs, em que é um arqueólogo que descobrira que é uma reencarnação de um nobre do Antigo Egito, o Príncipe Khufu.
Muito do preconceito que existe no meio da cultura pop vem da desinformação e da própria formação da nossa sociedade. O medo do diferente aparece em críticas rasas e sem muito fundamento, que em nada influenciam a essência do personagem, que, nesse caso, é ser um herói. E o heroísmo não tem nada haver com sexualidade ou etnia e sim com a atitude de colocar a vida do outro acima da própria vida. E nesse quesito o Gavião Negro de Aldis Hodge tem muito êxito!
Confira abaixo o trailer de Adão Negro:
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