Rio de Janeiro

Santiago Andrade

Duas horas depois de sair da redação da Band Rio, em 6 de fevereiro de 2014 para cobrir um protesto contra a alta da tarifa de ônibus, Santiago foi atingido na cabeça por um rojão jogado por um manifestante. Foi socorrido por dois colegas jornalistas e por um socorrista da Cruz Vermelha, sendo então levado – mediante a constatação, pelo socorrista, do estado gravíssimo – para o hospital mais próximo em uma viatura do Batalhão de Choque. Fotos e gravações de jornais e de TVs ou agências de notícias registraram a tragédia, o que provocou forte repercussão, despertou a reação de autoridades e ajudou a polícia a identificar os suspeitos.

Durante quatro horas, médicos tentaram estancar a hemorragia e reduzir a pressão intracraniana, causadas pelo impacto do rojão. No restante dos três dias em que Santiago esteve internado no CTI do Hospital Municipal Souza Aguiar, seu estado de saúde manteve-se grave. Ele sofreu afundamento do crânio e perdeu parte da orelha esquerda. Em 10 de fevereiro, pouco depois das 12h, a Secretaria Municipal de Saúde anunciou a morte cerebral de Santiago.

 

Santiago Ilídio Andrade

Santiago foi criado em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes da carreira de jornalista – que exerceu por 20 anos, foi DJ. Trabalhou durante 10 anos na TV Bandeirantes, onde participou de importantes coberturas, como a das chuvas na região serrana do Rio em 2011, que deixou centenas de mortos, o Massacre de Realengo, que vitimou 12 crianças numa escola, também em 2011, e em conferências internacionais como a Rio+20 e em eventos esportivos, como o Pan-Americano de 2007.

Experiente, ganhou dois prêmios. Em 2010 e em 2012, venceu, junto com o repórter Alexandre Tortoriello, dois prêmios jornalísticos de mobilidade urbana por reportagens sobre as dificuldades enfrentadas pelos usuários de transporte público no Rio de Janeiro. Dificuldades essas que motivaram o início de grandes protestos na cidade em junho de 2013, após o anuncio do reajuste de tarifa. Santiago também participou da cobertura jornalística dessas manifestações.

Teve morte cerebral em 10 de fevereiro de 2014, quatro dias após ser atingido por um rojão disparado por um manifestante durante um protesto contra a alta da tarifa de ônibus no Rio, sendo a primeira vítima do ataque de um manifestante desde a onda de protestos pelo país, em junho do ano anterior.

Santiago era casado há 30 anos com Arlita Andrade, com que teve uma filha, também jornalista, e três enteados, que ajudou a criar.

O cinegrafista foi morto por um rojão disparado durante um protesto em fevereiro de 201

Acusados

Caio Silva e Souza, foi o acusado de soltar o rojão que causou a morte de Santiago. Fábio Raposo, suspeito de passar para outro jovem o artefato, se apresentou à Polícia na madrugada de 7 de fevereiro, após veiculação em vários veículos de comunicação de imagens em que ele aparece com rosto coberto por um pano preto. Foi liberado no mesmo dia, mas a Justiça decretou a prisão temporária na manhã de 8 de fevereiro, e Raposo foi preso na casa de sua mãe.

Também através de imagens da mídia e com colaboração do advogado do primeiro preso, a Polícia identificou o suspeito de acender o rojão e, na noite de 10 de fevereiro, a Justiça decretou a prisão temporária de Caio Silva de Souza. Naquele momento, os policiais não podiam buscá-lo e prende-lo, isso só podia ser feito durante o dia. Em 11 de fevereiro, dezesseis policiais, agentes do serviço de inteligência e o Disque-Denúncia foram mobilizados na busca do manifestante, que foi considerado foragido e trabalhava como auxiliar de serviços gerais no hospital estadual Rocha Faria, em Campo Grande, zona oeste do Rio. Caio foi preso no dia 12 de fevereiro em Feira de Santana, na Bahia, e levado para o Rio de Janeiro.

3,

Em 14 de fevereiro, a Polícia Civil entregou ao Ministério Público do Rio o inquérito final, resultado de oito dias de investigações em 175 páginas. Eles foram indiciados por crimes de explosão e homicídio doloso triplamente qualificado com impossibilidade de defesa da vítima e com emprego de explosivo. Em 17 de fevereiro, o MP-RJ encaminhou a denuncia à Justiça e pediu a prisão preventiva de Fábio Raposo e Caio Silva de Souza.[15] Em 20 de fevereiro, o Tribunal de Justiça do Rio aceitou a denúncia contra os jovens e converteu a prisão temporária de 30 dias em prisão preventiva, o que teriam que ficar detidos no Complexo de Gericinó até o julgamento.

No entanto, em 18 de março de 2015, uma decisão da Justiça do Rio de Janeiro mudou esse andamento, e os réus não responderão por homicídio qualificado por motivo torpe, por, segundo a decisão, não haver provas da denúncia do MP de dolo eventual. Com isso, eles foram soltos, o caso deixa o Tribunal do Juri, será julgado em uma das varas criminais comuns da Comarca da Capital e a pena, que variava de 12 a 30 anos, não deve passar de oito anos. O Ministério Público contestou a decisão, disse que as imagens registradas provam que houve dolo eventual e que a decisão provoca sensação de impunidade na sociedade. Um dos defensores dos réus afirmou que eles “digiram o o rojão para a multidão com o escope de causar tumulto”.

| Adriano Dias

Comunicando ComCausa

Projeto Ponto de Cultura e Mídia Livre da ComCausa.

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