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Dia da Resistência Indígena na América Latina

No dia 12 de outubro, a América Latina celebra o Dia da Resistência Indígena, uma data que, ao longo dos anos, foi ressignificada por diversos movimentos sociais e culturais da região. Originalmente, o dia foi atribuído à celebração da chegada de Cristóvão Colombo às Américas, em 1492, um evento que, para muitos, marcou o início da “descoberta” de um novo continente. No entanto, para os povos indígenas das Américas, essa chegada significou séculos de exploração, opressão e genocídio. A data, que em muitos países era conhecida como “Dia da Hispanidade”, tem sido reinterpretada pelos movimentos indígenas como um marco de resistência contra o colonialismo e o racismo.

Hoje, cerca de 826 povos indígenas habitam a região latino-americana, somando mais de 45 milhões de pessoas, o que representa aproximadamente 10% da população do continente. Nos últimos anos, esses povos têm enfrentado intensas investidas contra seus territórios, com a intensificação de políticas de exploração ambiental, retrocessos legislativos e golpes de Estado, que ameaçam suas culturas e modos de vida.

Argentina: Escracho à estátua de Julio Roca
Na Argentina, a data foi reconfigurada como o “Dia do Respeito à Diversidade Cultural”. Em Buenos Aires, movimentos indígenas e antirracistas, como OLP Resistir y Luchar, Coluna Antirracista e Resumen Latinoamericano, organizaram um escracho à estátua de Julio Argentino Roca, localizada no centro da capital. Roca, que presidiu o país no final do século XIX, liderou a “Campanha do Deserto”, uma ofensiva militar que resultou no genocídio de diversos povos indígenas mapuches na região da Patagônia, entre 1876 e 1879.

Esse ato faz parte de um movimento maior, conhecido como “desmonumentalização”, que busca reavaliar as homenagens a figuras históricas associadas à colonização e ao genocídio. O objetivo é questionar a manutenção de monumentos que exaltam líderes responsáveis pela opressão dos povos originários.

Além disso, o Movimento de Mulheres Indígenas pelo Bem Viver convocou a primeira greve plurinacional em defesa do povo mapuche, que tem enfrentado despejos violentos na Patagônia. Denominando esses crimes como “terricídio”, o movimento ressalta a urgência de defender os territórios indígenas contra os interesses de grandes empresas extrativistas.

Bolívia: O Grande Wiphalazo
Na Bolívia, o 12 de outubro é marcado por atos como o “Grande Wiphalazo”, uma celebração que tem como principal símbolo a Whipala, bandeira andina que representa as nações indígenas. O evento reflete o orgulho das culturas originárias e o reconhecimento constitucional da Whipala como um símbolo nacional.

Neste ano, milhares de bolivianos participaram de manifestações em diversas regiões do país, levantando a bandeira como um sinal de resistência cultural e política contra as tentativas de desestabilização do governo do presidente Luis Arce, promovidas por setores da direita. Esses atos reafirmam a importância da data como um espaço de resistência, mas também de celebração das culturas ancestrais andinas.

Guatemala: Dia da Dignidade, Resistência Indígena, Negra e Popular
Na Guatemala, o 12 de outubro é celebrado como o Dia da Dignidade, Resistência Indígena, Negra e Popular. Este ano, os movimentos sociais organizaram uma marcha que partiu do Obelisco, em direção à Câmara da Indústria, na Cidade da Guatemala. Desde as primeiras horas da manhã, centenas de pessoas se concentraram para exigir respeito aos direitos dos povos indígenas e negros.

A Assembleia Social e Popular da Guatemala, uma das organizadoras da manifestação, destacou em sua convocatória que a data celebra “529 anos de resistência indígena, negra e popular”. Segundo uma porta-voz do movimento, “desde o início da invasão europeia, não deixamos de lutar contra as violentas imposições que pretendem nos submeter e calar”.

Um Dia de Reflexão e Luta
O Dia da Resistência Indígena não é apenas uma data comemorativa, mas um momento de reflexão sobre as lutas contínuas das populações originárias na América Latina. Ao longo dos séculos, esses povos têm resistido bravamente às tentativas de exploração e extermínio, mantendo vivas suas culturas, tradições e modos de vida. Em toda a região, os atos realizados neste dia reforçam a importância da diversidade cultural, da justiça social e da preservação dos direitos territoriais e humanos dos povos indígenas.

O movimento indígena latino-americano segue firme em suas demandas por respeito, dignidade e justiça, e o 12 de outubro se consolida como um dia de resistência e esperança para as gerações futuras.

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João Oscar

João Oscar é jornalista militante de direitos humanos da Baixada e colaborador da ComCausa