Após a Marinha se opor ao reconhecimento de João Cândido como herói nacional, seu único filho vivo, Adalberto Cândido, conhecido como seu Candinho, criticou a posição e diz que os familiares nunca foram contatados pela Marinha.
A inclusão de João Cândido no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria depende da aprovação do Projeto de Lei 4046/2021, que está atualmente em tramitação na Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados . Na segunda-feira (22), a Marinha enviou uma carta oficial ao deputado federal Aliel Machado (PV), presidente da comissão. A Revolta da Chibata, ocorrida no Rio de Janeiro em 1910 em reação aos castigos corporais aplicados aos marinheiros, foi descrita pela Marinha como uma “deplorável página da história nacional” resultante da “ação violenta de abjetos marinheiros”.
A carta, assinada pelo comandante Marcos Sampaio Olsen, diz que:
“A Força Naval não reconhece a atuação de João Cândido Felisberto na Revolta dos Marinheiros como um exemplo de heroísmo e patriotismo, mas sim como um flagrante de conduta reprovável para o povo brasileiro”.
O comandante classifica a revolta como “subversiva” e uma “ruptura dos preceitos constitucionais que organizam as Forças Armadas”. Ele argumenta que houve desrespeito à hierarquia e à disciplina, além de mencionar que inocentes morreram no episódio. Embora reconheça a necessidade de acabar com os castigos corporais, Olsen alega que os marinheiros estavam buscando “vantagens corporativas e ilegítimas”. A Marinha argumenta que incluir João Cândido no livro poderia passar a mensagem errada à sociedade e aos militares atuais, de que é aceitável recorrer às armas para reivindicar direitos.
Em resposta, Seu Candinho afirma:
“Não vejo nenhum envolvimento da Marinha em eventos relacionados ao meu pai. Na cerimônia de instalação da estátua dele na Praça XV, no Rio de Janeiro, não havia nenhum representante da Marinha presente. Parece que nutrem um sentimento de aversão. Eles deveriam reconhecer a contribuição dos marinheiros para a evolução da Marinha. Mas não quero que meu pai seja um herói da Marinha, quero que seja um herói do povo. Ele é um herói popular. A verdade é que a Marinha não acompanhou as mudanças necessárias.”
O deputado federal Lindbergh Farias (PT), autor do Projeto de Lei 4046/2021, expressou indignação com a posição da Marinha em postagens nas redes sociais. “Nossa luta para fazer de João Cândido um herói nacional não vai parar”, escreveu ele, compartilhando também imagens de uma visita feita a seu Candinho na sexta-feira (26).
Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria
O Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria é um registro de aço destinado a perpetuar a memória dos brasileiros que se destacaram na história do país. Desde sua criação em 1992, 64 pessoas já foram homenageadas, incluindo Tiradentes, Anita Garibaldi, Chico Mendes, Zumbi dos Palmares, Machado de Assis e Santos Dumont. Ele é mantido no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília. A inclusão de novos nomes depende da aprovação de uma lei pelo Congresso Nacional.
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