O “problema” é que ele é preto demais

Seleção Brasileira, racismo, Vinicius Junior

O modo como a FIFA e aqueles que votam para a premiação de Melhor do Mundo se “vingam” de Vinicius é excluindo-o desse prêmio, deixando claro que sua luta contra o racismo é, aos olhos deles, um incômodo. A mensagem é simples: ou ele se cala ou não será o melhor do mundo.

O Leitor mais desavisado deve questionar que “mas já teve melhores do mundo negros”, sim, já houve melhores do mundo negros, mas nenhum deles ousou desafiar o racismo de forma tão pública, enfrentando racistas dentro e fora de campo, ou chamando a Espanha de país racista. Nenhum deles se levantou contra um sistema onde jogadores negros, para serem aceitos, precisam silenciar enquanto enfrentam um estádio que ecoa ofensas racistas. Vinicius Jr. rompe esse silêncio.

O problema, portanto, é que ele é “preto demais, fala demais, joga demais e não aceita o racismo jamais”. Em contraste, Rodri, que ganhou o prêmio, é “branco demais, não fala nada demais e aceita o racismo como todos os demais”. A ironia é que a mesma Espanha de Rodri, que ficou em silêncio diante dos episódios de racismo contra Vinicius Jr., agora busca sediar uma Copa do Mundo. Uma nação onde torcidas são conhecidas por cantar “mono, mono, mono” para jogadores negros tenta mostrar ao mundo uma imagem de tolerância e modernidade ao se candidatar a um evento global. Mas essa candidatura só evidencia a hipocrisia: enquanto Vinicius é ofendido por lutar contra o racismo, a Espanha de Rodri se esforça para ser a “casa do futebol” mundial.

Lionel Messi, que detém o recorde de Bolas de Ouro, nunca se pronunciou sobre o racismo no futebol e já foi acusado de racismo. Embora ele possa não se sentir à vontade para abraçar a causa antirracista, a verdade é que ele simplesmente existe no futebol. Tem uma voz que poderia transformar o esporte e o mundo, mas permanece em silêncio.

Alguns vão dizer que Vinicius Jr. exagera no tema do racismo, mas esquecem que ele é um jovem enfrentando um estádio com 50 mil pessoas gritando “mono, mono, mono”. Um país que constantemente o acusa de ser provocador, uma torcida que simula seu enforcamento com bonecos, um mundo do futebol que se omite em apoiar sua luta.

Ele é um jogador solitário em campo contra o racismo e, fora dele, é atacado.

Não é difícil entender o impacto de sua presença. Ninguém vai ao estádio para ver Rodri; no Manchester City, os torcedores vêm para ver Haaland, De Bruyne e até Guardiola. No Real Madrid, o público vai para ver Vinicius. Ele é hoje o jogador mais decisivo do mundo, com performances que definem campeonatos. Rodri, por outro lado, não tem esse mesmo peso.

A imagem que fica é a de Rodri, que não tem culpa alguma, sendo vaiado na entrada da premiação, em um dos momentos mais constrangedores da história do futebol. E a palavra que melhor descreve isso é exatamente essa: constrangedor.

Por João Oscar – Militante político e articulador da Instituição ComCasua de Direitos Humanos

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