Nesta quinta (17), o ator Paulo Betti, se apresentou no Palácio Tiradentes com o espetáculo teatral “Autobiografia autorizada.
O monólogo “Autobiografia Autorizada” é um amálgama do Brasil profundo, inspirada pela inusitada história de superação de Paulo, que percorre o trajeto riquíssimo da roça à cidade, contando um pouco da história da Imigração Italiana no Brasil. A direção é de Paulo Betti e Rafael Ponzi.
Esta foi a primeira vez de Paulo Betti no Palácio Tiradentes, e o ator comentou a respeito:
“É muito emocionante e uma alegria apresentar nosso espetáculo aqui. E fico feliz em saber que a destinação desse espaço está sendo feita voltada à cultura”
A peça já passou por 10 teatros nos municípios do Rio, São Gonçalo, Petrópolis e Nova Iguaçu.
A antiga sede da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), está sendo transformada na Casa da Democracia, e se consolida como um novo espaço cultural do Centro do Rio.
Autobiografia Autorizada
‘Autobiografia Autorizada’ é o primeiro espetáculo do projeto ‘Arte de Inventar a Vida”, produzido pela Fundação de Artes Anita Mantuano do Rio de Janeiro (Funarj), em parceria com a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), por meio da Subdiretoria de Cultura, que tem Nelson Freitas à frente. “O objetivo é aproximar o público do artista através da linguagem teatral, contribuindo para a formação de plateia”, explicou Freitas.
A peça estreou em 2015 para celebrar os 40 anos de carreira de Paulo Betti e já passou por diversos estados brasileiros, além de Portugal. Este ano, ganhou nova versão para circular por algumas cidades fluminenses. O monólogo já passou por 10 teatros nos municípios do Rio, São Gonçalo, Petrópolis e Nova Iguaçu. A próxima apresentação será no Teatro Laura Alvim, em Ipanema.
É a primeira vez que o monólogo ganha uma temporada popular. Após cada apresentação, Paulo Betti ainda se aproxima do público para sessão de fotos e interage para trocar ideias sobre cultura e educação, dar dicas e responder às perguntas. Para o ator, a proposta desse projeto é retribuir à sociedade tudo o que recebeu. “Minha fixação pela memória da infância e adolescência, passada num ambiente inóspito e ao mesmo tempo poético, talvez mereça ser compartilhada no intuito de provocar emoção, riso, entretenimento e entendimento”, resume o ator.
Escrita por Betti, a partir de registros captados por ele ao longo da vida, documentos e imagens do modesto álbum da família, ‘Autobiografia Autorizada’ conta, com bom humor e muito afeto, a história da vida do ator, desde sua infância na pequena Rafard, até mudar-se para Sorocaba. Entre idas e vindas do pai a sanatórios, Paulo cresceu e pôde estudar, graças à patroa de sua mãe, que o matriculou numa creche da cidade. Bem diferente da maioria dos seis irmãos que sobreviveram – Adelaide perdeu 8 filhos de gestações anteriores.
Aliás, o hábito de escrever e registrar suas memórias – muitas além do seu testemunho eram obtidas a partir da oralidade dos irmãos, da mãe e de outros familiares – foi a chave para produzir o espetáculo com riqueza de detalhes, todos reais, imprimidos no espetáculo impressionou a plateia que, ao final, conversou com o ator para entender o seu processo de criação da obra. Betti fala e exibe os registros feitos em folhas de anotações, como o passaporte do pai, de 1887, que ele herdou e o ajudou a garantir mais tarde a cidadania italiana.
A peça também mostra diversos momentos importantes da História do país, a começar pela própria formação do povo brasileiro, influenciada pelos imigrantes. Paulo Betti é descendente de italianos que vieram a bordo de um mesmo fugidos da miséria na Itália e seduzidos pelo sonho de riqueza num país diverso e próspero, mas não conseguiram enriquecer. Ao contrário, viveram de forma humilde num antigo quilombo, em uma região habitada por muitas famílias.
A forte influência do rádio na vida dos brasileiros também é registrada em um trecho do espetáculo, em que Betti narra jogos da Seleção Brasileira, com Pelé, Garrincha e outros astros do futebol, da mesma forma como eram narrados nas emissoras. Sua paixão pelo rádio surgiu enquanto aprendia com a mãe a passar roupas no ferro a brasa.
A comida feita no fogão a lenha, os passeios na bicicleta de segunda mão, as estripulias de menino pelas ruas são outras reminiscências. Também ganham ares de nostalgia o primeiro banho de mar, aos 18 anos; o gosto pela música, do gospel ao samba, influenciado pelos vizinhos negros que tocavam instrumentos de sopro, entre muitas outras peculiaridades.
Edição ampliada da peça
Reconhecido e premiado como um dos mais versáteis atores brasileiros, Paulo Betti já fez mais de 40 peças teatrais (12 delas como diretor), dezenas de novelas, filmes e séries brasileiras. Mas tinha o sonho de protagonizar um monólogo. Chegou a cogitar contar a história de outro ator, mas sua consciência de classe não permitiu. “Não podia falar de alguém de classe média que tinha uma empregada. Minha mãe foi uma empregada doméstica”, disse. E mudou de ideia, resolvendo falar sobre sua própria vida, a partir de seus escritos.
“Mas eu tinha a preocupação de não parecer um projeto ególatra e ninguém querer assistir”, destacou, com simplicidade. Provocado pelo público, o ator revelou que pensa escrever uma segunda parte do espetáculo, contando mais experiências vividas na adolescência e juventude. Como a vida estudantil num dos melhores colégios públicos da cidade, o início da carreira no teatro amador, onde ganhou prêmios e se notabilizou na região, entre outras histórias.
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