Os policiais rodoviários federais que dispararam contra o carro de Juliana Leite Rangel, de 26 anos, na noite da véspera de Natal (24), em Caxias, na Baixada Fluminense, reconheceram em depoimento que atiraram no veículo por engano. O superintendente da PRF no Rio de Janeiro, Vitor Almada, confirmou que a abordagem foi um grave erro, atribuído a uma dedução equivocada.
Juliana estava indo para Itaipu, em Niterói, passar o Natal com a família quando o carro de seu pai foi alvejado. A jovem foi atingida e está internada em estado gravíssimo.
A equipe responsável pelo disparo era formada por dois homens e uma mulher, agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) que normalmente atuam em funções administrativas, mas estavam em plantão de Natal. No momento, utilizavam dois fuzis e uma pistola automática, que já foram apreendidos para perícia.
Segundo os depoimentos, os policiais alegaram que ouviram disparos enquanto se aproximavam do veículo e presumiram, de forma equivocada, que o carro era a origem dos tiros. A situação, entretanto, foi descrita pelo superintendente como uma “abordagem completamente fora dos padrões de treinamento da PRF”.
Possível confusão com outro ataque
O superintendente Vitor Almada revelou que o incidente pode estar relacionado a um alerta anterior de um suposto ataque a uma equipe da PRF na mesma estrada. Relatos indicam que uma patrulha prestava apoio a um carro quebrado no acostamento quando foi alvo de disparos por outro veículo. Os policiais envolvidos neste ataque acionaram o rádio para relatar o ocorrido, o que pode ter influenciado na decisão equivocada da patrulha que abordou o carro de Juliana.
Investigação rigorosa e posicionamento oficial
Vitor Almada enfatizou que “nada justifica o que aconteceu” e determinou uma investigação rigorosa. Para assegurar independência no processo, o superintendente solicitou que a Polícia Federal (PF) assuma a apuração do caso. Ele também pediu desculpas públicas à família de Juliana, expressou solidariedade e colocou a PRF à disposição para oferecer apoio.
“A abordagem foi totalmente equivocada e fora dos padrões. É um episódio lamentável que exige responsabilidade e justiça,” declarou Almada.
Os agentes envolvidos no incidente foram afastados de suas funções.
Estado de saúde e desdobramentos
Juliana permanece internada em estado gravíssimo, e sua família clama por justiça e explicações sobre a falha que resultou no ataque. O caso gerou ampla repercussão e reascendeu debates sobre a necessidade de reformulação nos protocolos de abordagem policial.
Repercussão pública
O episódio gerou indignação nas redes sociais e reforçou cobranças por maior treinamento e revisão de procedimentos na PRF. Especialistas em segurança pública também criticaram a postura dos agentes, destacando a urgência de evitar tragédias como essa.
Histórico de violência em abordagens da PRF
O caso de Juliana soma-se a outros episódios trágicos envolvendo a PRF e o uso excessivo de força letal. Em setembro de 2023, Heloísa dos Santos Silva, de apenas 3 anos, foi morta por um disparo na cabeça enquanto o carro de sua família transitava pelo Arco Metropolitano, em Seropédica. Outro caso emblemático foi o de Anne Caroline Nascimento Silva, de 23 anos, morta em junho de 2023 em uma abordagem na mesma Rodovia Washington Luís.
Nota da PRF
“Na manhã desta quarta-feira (25), a Corregedoria-Geral da Polícia Rodoviária Federal, em Brasília/DF, determinou abertura de procedimento interno para apuração dos fatos relacionados à ocorrência da noite de ontem, na BR-040, em Duque de Caxias/RJ. Os agentes envolvidos foram afastados preventivamente de todas as atividades operacionais.
A PRF lamenta profundamente o episódio. Por determinação da Direção-Geral, a Coordenação-Geral de Direitos Humanos acompanha a situação e presta assistência à família da jovem Juliana.
Por fim, a PRF colabora com a Polícia Federal no fornecimento de informações que auxiliem nas investigações do caso.”
Nota da PF
“A Polícia Federal instaurou inquérito para apurar os fatos relacionados à ocorrência registrada na noite desta terça-feira (24/12), no Rio de Janeiro, envolvendo policiais rodoviários federais.
Após ser acionada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), uma equipe da Polícia Federal esteve no local para realizar as medidas iniciais, que incluíram a perícia do local, a coleta de depoimentos dos policiais rodoviários federais e das vítimas, além da apreensão das armas para análise pela perícia técnica criminal.”
Nota de lamento da ComCausa
A OSC ComCausa emitiu uma nota oficial manifestando pesar e indignação pelo caso de Juliana, ressaltando a urgência de revisar as práticas de segurança pública no Brasil.
“Mais uma vez, presenciamos um episódio de violência que atinge diretamente uma família brasileira, transformando um momento de celebração em dor e desespero”, destacou a nota.
A entidade reforçou a importância do recente decreto do governo federal que regula o uso da força policial, mas enfatizou que sem implementação rigorosa e responsabilização dos agentes, tragédias como essa continuarão a ocorrer.
Caminho para justiça e mudança
O caso de Juliana Rangel evidencia a necessidade de uma resposta firme do sistema judicial e do Estado, assegurando que ações policiais estejam em conformidade com protocolos que preservem vidas. Este episódio deve ser investigado com transparência e servir como catalisador para mudanças reais nas políticas de segurança pública.
Que Juliana não se torne apenas mais um número nas estatísticas de violência, mas um símbolo de que vidas importam e de que o uso da força policial deve ser sempre a última alternativa.
– Foto de capa ilustrativa.
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