O terreiro Casa de Caridade Caboclo Pena Dourada, localizado no bairro do Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro, foi invadido e destruído na madrugada desta terça-feira, 28 de janeiro. O ataque, que envolveu vandalismo e roubo, também teve características claras de intolerância religiosa, já que imagens sagradas foram quebradas e uma bíblia foi deixada na entrada do local, o que evidencia um ato de intimidação.
A dirigente do terreiro, Fernanda Franco, relatou emocionada nas redes sociais o choque ao encontrar o local totalmente revirado e saqueado. Segundo ela, um filho de santo que mora próximo foi o primeiro a ver a destruição e avisar os outros integrantes.
“Essa noite nós fomos invadidos. Arrombaram os portões, deixaram a casa toda aberta. Destruíram tudo. Os atabaques foram jogados no chão, as imagens também. Levaram todos os ventiladores, geladeiras… Quebraram a imagem de Exu. Tá tudo revirado, destruído. Roubaram as torneiras, a casa estava alagada. Nada restou”, declarou Fernanda, sem conseguir conter a emoção.
Os criminosos roubaram dez ventiladores de parede, dois ventiladores de mesa, um ventilador de torre, quatro aparelhos de ar-condicionado, duas geladeiras, um freezer, um expositor de salgados, um fogão industrial, um micro-ondas, um botijão de gás, uma máquina de lavar, uma televisão, um computador, dois ventiladores de teto, um filtro de água, diversos disjuntores e tomadas.
Terreiro cria campanha para se reerguer
Diante da destruição, a comunidade da Casa de Caridade Caboclo Pena Dourada lançou uma vaquinha online para arrecadar fundos e recuperar o que foi perdido. O valor necessário estimado é de 20 mil reais, destinados à reposição dos itens roubados e reparação dos danos ao espaço físico.
“Este terreiro não é apenas um local de culto; é um refúgio para aqueles que buscam conforto, orientação e conexão com o divino. É um espaço onde celebramos a vida, honramos nossos ancestrais e ajudamos aqueles que precisam de apoio espiritual e emocional. Ver tudo isso destruído é uma dor imensa para toda a nossa comunidade”, diz o texto divulgado pelo terreiro.
Secretaria Municipal reconhece caso como racismo religioso
A Gerência para Povos e Comunidades Tradicionais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima da Prefeitura do Rio de Janeiro prestou solidariedade e declarou que o episódio é mais um caso de racismo religioso.
“Mais uma vez, uma comunidade tradicional de matriz africana do Rio foi atacada por atos violentos e covardes contra o patrimônio ancestral local. Nós, povos tradicionais, representamos cerca de cinco por cento da população e somos os mais atacados por atos de violência. A atuação da Gerência para povos e comunidades tradicionais é para promover direitos para as nossas comunidades e combater o preconceito”, destacou a nota oficial.
Além disso, a Prefeitura do Rio anunciou algumas medidas reparatórias, incluindo a inclusão do terreiro no Programa Casas Ancestrais, um programa de acolhimento socioambiental e suporte jurídico às vítimas de ataques religiosos.
Intolerância religiosa e ataques contra religiões de matriz africana
Casos de intolerância religiosa contra terreiros de umbanda e candomblé têm se tornado cada vez mais frequentes no Brasil. Dados da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro apontam que os crimes de intolerância religiosa cresceram cerca de quarenta por cento nos últimos anos, sendo os praticantes de religiões de matriz africana os mais atingidos.
Especialistas e lideranças religiosas cobram políticas públicas mais efetivas para proteger as comunidades de terreiro e punir os responsáveis por esses crimes, que representam não apenas violência patrimonial, mas também ataques diretos à liberdade religiosa garantida pela Constituição Federal.
A destruição do Casa de Caridade Caboclo Pena Dourada é mais um triste exemplo da perseguição que praticantes dessas tradições religiosas enfrentam. A reconstrução do espaço dependerá do apoio da comunidade e da mobilização para garantir que episódios como esse não fiquem impunes.
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