Baixada Fluminense: Um mosaico de religiões afro e desafios de tolerância
Em recente matéria publicada pelo Jonal Extra, destacou que a Baixada Fluminense pulsa com uma rica diversidade religiosa que abraça tradições afro-brasileiras. Recentemente, a região viu sua fama aumentar após o lançamento do clipe da cantora Anitta, que teve como cenário terreiros em Nova Iguaçu. Contudo, essa visibilidade também traz à tona questões mais profundas sobre a convivência e o respeito religioso na área.
De acordo com dados do IBGE, as treze cidades da Baixada Fluminense são o lar de uma concentração significativa de templos religiosos, sendo quatro das dez cidades brasileiras com maior número de templos localizadas na região. Casas como o Ilê Axé Opô Afonjá de São João de Meriti, o primeiro do Rio, e o Ilê Omolu Oxum, em Duque de Caxias, são terreiros que se destacam como centros de preservação culturalm, engajamento comunitário e religioso.
Além das casas religiosas, o patrimônio humano da Baixada, tratando-se das tradições das religiões de matriz africana, é extremamente vasto, respeitado e reconhecido nacionalmente. Podemos citar Joãozinho da Gomeia (Tata Londirá), como era conhecido João Alves de Torres Filho, de Duque de Caxias, e a Mãe Beata de Yemanjá, de Nova Iguaçu, ícone do Candomblé. Uma mulher negra, mãe de 4 filhos e sacerdotisa, ela ergueu a bandeira dos direitos humanos, especialmente dos direitos das mulheres negras, cuja passagem sete anos de partida lembramos hoje, dia 27 de maio.
Violência e a intolerância religiosa persistem
Entretanto, esse mosaico religioso não está isento de desafios. A violência e a intolerância religiosa têm ameaçado o tecido dessa rica tapeçaria. Infelizmente, a intolerância religiosa continua a ser uma realidade palpável. Nos últimos anos, centenas de terreiros foram fechados devido a ameaças de traficantes que se converteram para religiões neopentecostais, e relatos de desrespeito e discriminação continuam a surgir.
Evidentemente, o racismo é a principal motivação desta violência contra as religiões de matriz africana; entretanto, nos últimos anos, os posicionamentos políticos promovidos pelo discurso de ódio e na diminuição da importância da população negra para a formação do Brasil têm sido outro motivador da violência contra as pessoas de matriz africana de religião de matriz africana.
Recentemente, o Centro Espírita Pai Congo de Cambinda, em Paracambi, foi alvo de ataques que evidenciaram a persistência desse problema na região. As publicações difamatórias nas redes sociais, marcadas por teor racista e religioso, são um lembrete da necessidade urgente de promover o respeito e a tolerância entre todas as crenças.
Os supostos autores das publicações difamatórias, Natanael Ferreira Barboza e Renato de Moraes Fialho, teriam posicionamentos divergentes de dois dos homenageados: o ex-deputado André Ceciliano e seu filho Andrezinho, pré-candidato a prefeito na cidade. Utilizaram montagens de publicações nas redes sociais, especialmente no Facebook e Instagram, com teor racista e de intolerância religiosa. Imagens sacras, incluindo as do próprio Centro Espírita Pai Congo e de outras Casas de Umbanda, foram manipuladas para promover o pânico moral e conflito religioso.
Além da casa religiosa, a Mãe de Santo Izia D’ Oxum, uma figura respeitada de 80 anos de idade, foi diretamente atingida pelos ataques. Reconhecida por seu trabalho social realizado há mais de três décadas no centro, ela é conhecida por promover o diálogo ecumênico e buscar a união entre diferentes correntes religiosas na cidade.
Centro Espírita Pai Congo de Cambinda é usado em ataque de intolerância religiosa
Apesar dos desafios, a Baixada Fluminense permanece como um bastião de diversidade religiosa e cultural. À medida que honramos o legado dos ancestrais e nos comprometemos com um futuro de respeito mútuo, podemos aspirar a uma comunidade onde todas as religiões coexistam harmoniosamente. Entretanto., casos como o do Centro Espírita Pai Congo de Cambinda, em Paracambi, não podem ser minimizados e passados sem a devida responsabilização dos atores dos atos racistas.
Foto matéria: Ilustrativa.
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