A organização ComCausa Defesa da Vida sistematizou nesta semana um panorama sobre as principais violações de direitos humanos na Baixada Fluminense, e apresentará o documento oficialmente nesta sexta-feira (7), durante o encontro da Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial da Câmara dos Deputados no município de Japeri. A entrega será feita diretamente ao deputado federal Reimont (PT-RJ), presidente da comissão.
Elaborado com base nas experiências empíricas da ComCausa nos 13 municípios da Baixada, o documento intitulado “Panorama das Violações de Direitos Humanos na Baixada Fluminense (2024-2025)” é resultado de anos de escuta territorial, acolhimento de denúncias, articulação com coletivos locais, relação com veículos de imprensa e monitoramento das dinâmicas institucionais da região.
O conteúdo já foi disponibilizado ao público no site oficial da organização e será utilizado como subsídio para ações legislativas, estudos acadêmicos e mobilizações sociais.
Um ponto de partida para novos diagnósticos
O relatório elaborado pela ComCausa tem como finalidade estimular o debate, fortalecer articulações e apoiar práticas transformadoras, reconhecendo os saberes construídos nas periferias da Baixada Fluminense. A proposta é transformar vivências concretas em referência para políticas públicas e ações efetivas.
“Ao transformar a experiência acumulada em subsídio reflexivo e político, a ComCausa reafirma sua aposta na força das comunidades para construir outro futuro possível — um futuro no qual a dignidade não seja exceção, mas princípio”, destaca o documento.
A organização deixa claro que não se trata de um estudo técnico conclusivo, mas de uma leitura inicial baseada em experiências reais e monitoramento territorial, voltada a subsidiar pesquisas, políticas e iniciativas públicas comprometidas com os direitos humanos.
“É um mapa narrativo e interpretativo construído a partir das vivências da ComCausa, que pode orientar estudos, ações parlamentares e políticas comprometidas com a transformação social”, afirma Adriano Dias, da ComCausa Defesa da Vida.
Os 11 eixos temáticos do relatório
O relatório identifica 11 eixos prioritários de violações que afetam a Baixada Fluminense:
- Déficit Institucional em Direitos Humanos
- Ausência ou fragilidade de secretarias e conselhos temáticos (Direitos Humanos, Igualdade Racial, Mulheres, Povos Originários).
- Falta de orçamento público destinado a ações estruturantes em DH.
- Baixa adesão a programas e políticas federais, como o Sistema Nacional de Direitos Humanos, SINAPIR e SNPM.
- Violência Letal e Abusos Policiais
- Elevada incidência de mortes por intervenção do Estado, com destaque para os municípios de Nova Iguaçu, Belford Roxo e São João de Meriti.
- Práticas recorrentes de abordagens violentas, execuções sumárias e ausência de responsabilização institucional.
- Desaparecimentos Forçados
- Aumento de casos de desaparecimentos sem resposta estatal.
- Ausência da Delegacia Especializada de Descoberta de Paradeiros, prometida desde 2019.
- Deficiência na integração de bancos de dados e protocolos de busca.
- Domínio Territorial por Facções e Milícias
- Atuação de grupos armados com imposição de “taxas”, toques de recolher e controle da circulação.
- Relatos de omissão e/ou conivência de agentes públicos, incluindo forças de segurança e representantes locais.
- Violência de Gênero e Feminicídio
- Crescimento nos casos de feminicídio e violência doméstica.
- Enfraquecimento das delegacias especializadas, casas de acolhimento e redes de proteção às mulheres.
- Genocídio da Juventude Negra
- Jovens negros seguem como maioria entre vítimas de homicídios e letalidade policial.
- Ausência de políticas de reparação, inclusão produtiva e oportunidades reais para essa população.
- Violência na Primeira Infância
- Casos graves de violência contra crianças, negligência e abuso.
- Conselhos tutelares sobrecarregados, sem estrutura ou equipes para visitas preventivas domiciliares.
- Violência nas Escolas e Falta de Mediação
- Aumento de ameaças, agressões e tensão escolar.
- Inexistência de programas municipais de mediação de conflitos, cultura de paz e apoio psicossocial.
- População em Situação de Rua
- Crescimento visível da população sem moradia, agravado pela crise social e econômica.
- Falta de políticas públicas integradas de assistência, saúde mental, moradia e reinserção social.
- Direito à Água e ao Saneamento Básico
- Baixa cobertura de coleta e tratamento de esgoto.
- Ocorrência frequente de enchentes, contaminação e surtos de doenças hídricas, afetando comunidades vulneráveis.
- Injustiça Ambiental
- Persistente contaminação tóxica no entorno do antigo lixão de Gramacho, afetando solo, ar e a Baía de Guanabara.
- Impacto desproporcional sobre comunidades negras e pobres, configurando racismo ambiental.
A sistematização foi coordenada por Adriano Dias, com apoio de Débora Barroso e João Oscar, e representa mais uma iniciativa da ComCausa para fortalecer a incidência política dos territórios vulnerabilizados e exigir respostas concretas do poder público.
Imagem de capa ilustrativa
Leia também
Panorama das principais violações de direitos humanos na Baixada Fluminense (2024-2025)
| Projeto Comunicando ComCausa
| Portal C3 | Instagram C3 Oficial
______________

Compartilhe: