Foi sepultado na manhã deste domingo (8), no Cemitério São João Batista, em Botafogo, o corpo de Herus Guimarães Mendes da Conceição, de 24 anos, assassinado durante uma operação do Bope no Morro Santo Amaro, Zona Sul do Rio de Janeiro. A cerimônia, marcada por muita emoção e revolta, reuniu familiares, amigos, moradores da comunidade, ativistas de direitos humanos e lideranças políticas.
Segundo relatos de testemunhas e documentos preliminares, Herus foi atingido por dois tiros na altura do abdômen, disparados por agentes da polícia militar durante a ação. De acordo com moradores que presenciaram o ocorrido, Herus não portava armas, não estava em confronto e apenas participava da festa junina da comunidade, que reunia crianças, quadrilhas, comidas típicas e centenas de pessoas. Os primeiros disparos ocorreram por volta da 1h da manhã de sábado (7). Moradores relataram que policiais do Bope surgiram de forma repentina, entrando pelos becos da comunidade, e que logo em seguida os tiros começaram. “A gente estava dançando com as crianças, quando começou o tiroteio. Foi um desespero. O Herus caiu no chão, sangrando. Nós levamos ele para o hospital. A polícia não ajudou em nada”, disse uma amiga da família.
Levado pelos próprios moradores ao Hospital Glória D’Or, Herus ainda chegou com vida, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu durante a madrugada. O caso revoltou a comunidade, que acusa a Polícia Militar de omissão de socorro e uso desproporcional da força. A mãe de Herus, visivelmente abalada, declarou durante o velório: “Eles não deram socorro. Meu filho estava respirando. Eles deixaram ele morrer”. Durante o enterro, que contou com grande presença de apoiadores, houve momentos de silêncio e também de protesto. Cartazes com frases como “A vida de Herus importava” e “Justiça para o Santo Amaro” eram segurados por moradores. Ativistas acusam o Estado de agir com letalidade nas favelas, mesmo em contextos de celebração e cultura popular.
Em resposta à comoção pública, o governador Cláudio Castro exonerou os coronéis Aristheu de Góes Lopes (Bope ) e André Luiz de Souza Batista (COE), e determinou o afastamento dos policiais envolvidos até que os fatos sejam totalmente esclarecidos. A Corregedoria da PM está em posse das imagens das câmeras corporais dos agentes, e a investigação está sendo conduzida pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
A operação que resultou na morte de Herus ainda deixou cinco pessoas feridas, entre elas um adolescente de 16 anos. Dois feridos continuam internados em estado grave. De acordo com a PM, a operação teria sido motivada por informações sobre um possível confronto entre facções armadas na região, o que justificaria, segundo a corporação, a ação emergencial. No entanto, para os moradores do Morro Santo Amaro, nada justifica o que ocorreu. “Era uma festa, não era confronto. Tinham crianças, famílias, idosos. Não tinha espaço para tiro”, declarou um líder comunitário. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, também se manifestou: “É revoltante e desesperador ver que, mesmo em momentos de cultura popular e celebração, a violência do Estado continua fazendo vítimas entre jovens negros e periféricos”.
Herus Guimarães era pai de uma criança de dois anos, trabalhador e querido por vizinhos. Sua morte, mais do que uma tragédia individual, tornou-se símbolo de uma ferida coletiva: o recorrente uso da força letal do Estado em territórios de favela. O clamor por justiça ecoou entre as lágrimas no cemitério: “O Herus não pode ter morrido à toa. O nome dele não vai ser esquecido”, disse um primo, ao final do sepultamento.
Enquanto isso, a dor permanece entre os moradores do Santo Amaro, que viram uma noite de alegria se transformar em luto. Para muitos, a morte de Herus é mais um triste capítulo de uma rotina marcada por operações letais em comunidades do Rio de Janeiro, onde o direito à vida e à segurança ainda parece distante da realidade cotidiana.
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