Estudo relaciona avanço da dengue com mudanças climáticas, desmatamento e urbanização desordenada.
Um estudo publicado na renomada revista Nature revela uma conexão alarmante entre o aumento exponencial dos casos de dengue no Brasil e os efeitos das mudanças climáticas, somados ao desmatamento e à urbanização desordenada. Liderada pelo pesquisador Christovam Barcellos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a pesquisa analisou dados epidemiológicos e ambientais ao longo de 21 anos (2000-2020) e concluiu que fatores como ondas de calor, chuvas intensas, desmatamento e a falta de planejamento urbano têm criado condições ideais para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, principal vetor da dengue, além de outras arboviroses como zika e chikungunya.
O estudo destaca que eventos climáticos extremos, como secas prolongadas e inundações, estão diretamente relacionados ao aumento da população do Aedes aegypti. Ondas de calor, cada vez mais frequentes e intensas devido ao aquecimento global, aceleram o ciclo de vida do mosquito, favorecendo sua reprodução e sobrevivência. Por outro lado, períodos chuvosos intensos ampliam a disponibilidade de criadouros, como recipientes com água parada em áreas urbanas, onde o mosquito deposita seus ovos. Essa combinação de fatores tem levado a picos de incidência da dengue em diversas regiões do país.
Urbanização desordenada e falta de saneamento
A urbanização acelerada e desorganizada é apontada como um dos principais fatores agravantes. O crescimento de habitações precárias, sem infraestrutura adequada de saneamento básico e abastecimento de água, contribui para o acúmulo de resíduos e água parada, criando ambientes propícios para a reprodução do mosquito. Além disso, a falta de políticas públicas eficientes para gestão de resíduos sólidos e drenagem urbana agrava o problema, especialmente em periferias e áreas de ocupação irregular.
Desmatamento e alterações no ecossistema
O desmatamento também desempenha um papel crucial na expansão da dengue. A destruição de habitats naturais modifica o ecossistema, levando o Aedes aegypti a se adaptar a áreas urbanas e periurbanas. Com menos predadores naturais e maior disponibilidade de criadouros artificiais, o mosquito encontra condições ideais para se proliferar. Além disso, o desmatamento contribui para as mudanças climáticas, criando um ciclo vicioso que favorece a disseminação de doenças.
Expansão geográfica da dengue
O estudo alerta para a expansão geográfica da dengue, que tem atingido regiões antes consideradas menos vulneráveis, como o Sul do Brasil. Tradicionalmente, essas áreas apresentavam temperaturas mais amenas, o que limitava a sobrevivência do mosquito. No entanto, com o aumento das temperaturas médias globais, o Aedes aegypti tem conseguido se estabelecer em locais historicamente menos propensos à doença. Essa mudança no padrão de distribuição da dengue representa um novo desafio para o sistema de saúde pública.
Medidas preventivas e ações urgentes
Diante desse cenário preocupante, os especialistas envolvidos no estudo enfatizam a necessidade de políticas públicas integradas e eficazes para combater a proliferação do mosquito e mitigar os impactos das mudanças climáticas. Entre as medidas sugeridas estão:
Ampliação de Programas de Vigilância Epidemiológica: Monitoramento constante e em tempo real dos casos de dengue, com uso de tecnologias como sensores e inteligência artificial para prever surtos.
Investimento em Saneamento Básico: Melhoria da infraestrutura de abastecimento de água, coleta de lixo e drenagem urbana, especialmente em áreas periféricas.
Campanhas de Conscientização: Educação da população sobre a importância de eliminar criadouros e adotar medidas preventivas, como o uso de repelentes e telas em janelas.
Combate ao Desmatamento: Políticas de conservação ambiental e reflorestamento para restaurar ecossistemas e reduzir o impacto das mudanças climáticas.
Adaptação às Mudanças Climáticas: Desenvolvimento de estratégias para lidar com os efeitos do aquecimento global, como planejamento urbano resiliente e sistemas de alerta precoce para eventos climáticos extremos.
A pesquisa da Fiocruz reforça que o combate à dengue não se resume apenas ao controle do mosquito, mas envolve uma abordagem multidisciplinar que inclui a mitigação das mudanças climáticas, a preservação ambiental e a melhoria das condições de vida nas cidades. Sem ações coordenadas e urgentes, o cenário tende a se agravar, colocando em risco a saúde pública e sobrecarregando ainda mais o sistema de saúde brasileiro.
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