Morador de Madureira denuncia intolerância religiosa e homofobia

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No dia 18 de setembro, João Júnior, escultor e morador de um condomínio em Madureira, Zona Norte do Rio de Janeiro, foi alvo de um grave caso de intolerância religiosa e homofobia. A porta de seu apartamento foi pichada com ofensas e ameaças. Entre os insultos, mensagens homofóbicas e acusações relacionadas à sua prática religiosa

foram deixadas: “Bruxo, filho do diabo, servo de Satanás. Pegue suas imagem (sic) e suma do nosso condomínio. Ou vamos invadir e quebrar tudo. Depois, queimar em nome de Jesus. Viado dos infernos”, relatou o escultor.

Um cenário de medo e insegurança
João, que adquiriu o imóvel há apenas quatro meses, trabalha com esculturas voltadas tanto para cultos de religiões de matriz africana quanto para representações católicas. Ele acredita que o transporte das obras dentro do condomínio tenha despertado a hostilidade.

Embora as pichações tenham sido removidas, o medo persiste:
“É aterrorizante. Um medo que invade e te consome. Passei alguns dias dormindo na casa da minha irmã para tentar entender o que estava acontecendo”, desabafou o escultor.

A ausência de câmeras no bloco e relatos de falhas no sistema de segurança do condomínio dificultam as investigações. O condomínio informou que câmeras estão em processo de instalação, mas que, até agora, não há registros do momento do crime.

Um problema recorrente no Rio de Janeiro
Casos de intolerância religiosa e homofobia não são novidade na capital fluminense. Em 2023, o Rio liderou o ranking nacional de denúncias de intolerância religiosa, com 170 casos registrados. Em 2024, esse número já ultrapassa 217 registros. Municípios da Baixada Fluminense, como Nova Iguaçu e Duque de Caxias, também figuram na lista dos mais afetados.

O babalawô Ivanir dos Santos, doutor em História Comparada pela UFRJ, destacou:
“O Rio de Janeiro é frequentemente o estado com maior incidência de intolerância religiosa, oscilando entre o primeiro e o segundo lugar no país.”

A antropóloga Ana Paula Miranda, da Universidade Federal Fluminense (UFF), reforçou:
“O direito à liberdade religiosa não significa o direito de ofender. Garantir a liberdade de expressão não permite ofensas ou conversões forçadas em nome de uma salvação pessoal.”

Impacto emocional e limitação da vida
João Júnior relata que o episódio afetou profundamente seus planos e sua sensação de segurança:
“O medo me limitou. Não consigo mais planejar reformas, comprar móveis ou continuar com os projetos que tinha para a minha casa. O que era a realização de um sonho se tornou quase um pesadelo.”

O que dizem as autoridades e o condomínio
A Polícia Civil informou que a Delegacia de Madureira está investigando o caso para identificar os responsáveis pelas pichações.

O condomínio Recanto das Flores 2 declarou repúdio ao ocorrido, afirmando que realizou uma assembleia extraordinária no dia do incidente. Além disso, anunciou uma campanha de conscientização sobre os direitos individuais e o reforço do sistema de segurança, com a instalação de novas câmeras nas áreas comuns

O caso de João é um lembrete da persistência de crimes de intolerância religiosa e preconceito no Brasil. É fundamental que a sociedade se mobilize para combater essas violações e garantir que todos possam exercer sua fé e viver suas identidades com respeito e dignidade.

Imagem meramente ilustrativa

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