Na manhã desta terça-feira, 15 de abril de 2025, o cenário diante da sede do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, no centro da capital fluminense, foi marcado por um silêncio contundente e carregado de significado. Sozinho, como tem feito há quase três décadas, o senhor José Luiz Faria da Silva voltou a ocupar aquele espaço público, segurando sua dor como estandarte de luta. Pai de Maicon de Souza da Silva — assassinado aos dois anos e meio por um disparo de fuzil da Polícia Militar durante uma ação no conjunto de favelas de Acari, em 1996 —, ele mantém vivo o clamor por justiça, memória e reparação.
Era o fim da tarde de 15 de abril de 1996 quando Maicon foi atingido por um tiro, a poucos metros de sua residência e sob o olhar do próprio pai. Desde então, ano após ano, no mesmo dia, José Luiz retorna ao local onde acredita que as respostas deveriam ter vindo. O processo que buscava responsabilizar os autores do disparo foi tragado pelo tempo e, com ele, a esperança de punição se esvaiu: o caso prescreveu.
A prescrição, no âmbito jurídico, representa a perda do direito do Estado de punir, por não ter agido dentro do prazo legal estabelecido. No próximo ano, o caso deve ser arquivado definitivamente com a extinção da punibilidade — termo mais amplo, que abarca a prescrição e outros motivos pelos quais o Estado perde sua capacidade de responsabilizar juridicamente alguém, como a decadência ou o perdão judicial.
Para quem cruza apressadamente a calçada do prédio do Ministério Público, José Luiz pode parecer apenas mais um idoso sentado com seus cartazes. Mas para quem conhece sua trajetória, ele é símbolo de resistência. Com o tempo, tornou-se figura conhecida pelos funcionários e seguranças da instituição, que, com frequência, lhe oferecem palavras de conforto, café e solidariedade. Sua presença constante é mais que lembrança: é um grito silencioso contra o esquecimento imposto pelo sistema.
A ComCausa esteve presente na vigília deste 15 de abril, renovando seu compromisso com a luta por memória e justiça. Ao longo de sua trajetória, José Luiz sempre esteve ao lado de outras mães e pais que também enfrentam a dor da perda e o abandono institucional. Desta vez, estava só — e testemunhar sua solidão foi profundamente doloroso. Por isso, estar com ele é mais do que um gesto de apoio: é um compromisso ético, político e histórico.
Que sua vigília solitária continue ecoando como uma denúncia. Que o silêncio das autoridades não apague o nome de Maicon. Porque resistir à impunidade é também manter viva a memória — e isso é, em si, um ato de justiça.
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