Pai mantém protesto solitário diante do Ministério Público 29 anos após morte do filho em ação policial

Maicon Acari Pai mantém protesto solitário diante do Ministério Público 29 anos

Na manhã desta terça-feira, 15 de abril de 2025, o cenário diante da sede do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, no centro da capital fluminense, foi marcado por um silêncio contundente e carregado de significado. Sozinho, como tem feito há quase três décadas, o senhor José Luiz Faria da Silva voltou a ocupar aquele espaço público, segurando sua dor como estandarte de luta. Pai de Maicon de Souza da Silva — assassinado aos dois anos e meio por um disparo de fuzil da Polícia Militar durante uma ação no conjunto de favelas de Acari, em 1996 —, ele mantém vivo o clamor por justiça, memória e reparação.

Era o fim da tarde de 15 de abril de 1996 quando Maicon foi atingido por um tiro, a poucos metros de sua residência e sob o olhar do próprio pai. Desde então, ano após ano, no mesmo dia, José Luiz retorna ao local onde acredita que as respostas deveriam ter vindo. O processo que buscava responsabilizar os autores do disparo foi tragado pelo tempo e, com ele, a esperança de punição se esvaiu: o caso prescreveu.

A prescrição, no âmbito jurídico, representa a perda do direito do Estado de punir, por não ter agido dentro do prazo legal estabelecido. No próximo ano, o caso deve ser arquivado definitivamente com a extinção da punibilidade — termo mais amplo, que abarca a prescrição e outros motivos pelos quais o Estado perde sua capacidade de responsabilizar juridicamente alguém, como a decadência ou o perdão judicial.

Para quem cruza apressadamente a calçada do prédio do Ministério Público, José Luiz pode parecer apenas mais um idoso sentado com seus cartazes. Mas para quem conhece sua trajetória, ele é símbolo de resistência. Com o tempo, tornou-se figura conhecida pelos funcionários e seguranças da instituição, que, com frequência, lhe oferecem palavras de conforto, café e solidariedade. Sua presença constante é mais que lembrança: é um grito silencioso contra o esquecimento imposto pelo sistema.

A ComCausa esteve presente na vigília deste 15 de abril, renovando seu compromisso com a luta por memória e justiça. Ao longo de sua trajetória, José Luiz sempre esteve ao lado de outras mães e pais que também enfrentam a dor da perda e o abandono institucional. Desta vez, estava só — e testemunhar sua solidão foi profundamente doloroso. Por isso, estar com ele é mais do que um gesto de apoio: é um compromisso ético, político e histórico.

Que sua vigília solitária continue ecoando como uma denúncia. Que o silêncio das autoridades não apague o nome de Maicon. Porque resistir à impunidade é também manter viva a memória — e isso é, em si, um ato de justiça.

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