São poucos os políticos que conseguem transcender o seu mandato e colocam as bandeiras que empunham acima de interesses pessoais e da própria carreira no Legislativo.
O deputado estadual André Ceciliano chegou ao comando do parlamento por uma sucessão de fatos inesperados que o colocaram na primeira vez na presidência da Assembleia Legislativa Estadual. Encontrou um cenário de terra arrasada com a credibilidade do Legislativo calcinada. Sua condução da casa vem sendo realizada em sintonia fina. Ajusta milimetricamente cada passo e a casa legislativa. Sabe extrair de cada um de seus interlocutores o que eles tem de melhor.
É um mestre na política do olho no olho. A confiança que ele inspira é fruto de uma jornada de coerência, franqueza e de humildade, sem abrir mão da altivez. Afinal, ele sabe que é chefe não apenas de um poder, mas do poder que foi emanado pelo povo e que faz a leis que devem ser cumpridas pelo
Legislativo e zeladas pelo Judiciário.
O cenário de terra arrasada que encontrou mudou totalmente com a valorização não do culto à sua pessoa, mais ao próprio Legislativo. Ele fica cada vez mais forte com a valorização da casa parlamentar.
O Rio de Janeiro deve muito ao jeito de ser do homem André Ceciliano. O estado encontrou na casa do povo a coluna vertebral que sustentou o Estado na implosão do Executivo pilotado por um governador patologicamente doente e hipnotizado por um sonho presidencial maluco.
O Legislativo carioca não foi abduzido por um Executivo que preparava dossiês contra parlamentares e tentava intimidar. O processo de impeachment foi impecável. Não houve confrontos e sim muita ciência jurídica aplicada e fundamentação para desenastrar, de forma irretocável, um falastrão que, como ex-togado, seria, pelo menos hipoteticamente, capaz de procurar lacunas no seu processo de afastamento.
Só por saber pilotar essa fase, seu lugar na História estaria reservado. Porém, Ceciliano foi muito além. Serviu como base de apoio a um governo que nascia e não caiu na tentação de abduzir o Executivo neonatal à força demonstrada pelo legislativo. Deu ao novo governador todos as condições de governabilidade. Nada pediu, nada cobrou e, principalmente, nada impôs. Foi sábio na sua missão.
A coerência de André Ceciliano se manifesta também na sua vida partidária. Em um cenário de polarização nacional, quando o próprio PT era um partido envergonhado, ele resistiu aos vários assédios de mudança de sigla. Extraiu do seu petismo legendário, sem duplo sentido, o que de melhor uma visão de esquerda poderia trazer.
O Supera Rio e as leis da Alerj na pandemia serviram como matrizes para várias outras casas legislativas estaduais. Ao defender o Rio de Janeiro nessa jornada, ele se habilita naturalmente à cadeira do Senado, que tem exatamente o objetivo de defender a agenda fluminense.
Eleito, não será um senador do PT, mas o senador do Rio. Trará para uma das três cadeiras reservadas ao estado na alta casa do Legislativo os mesmos princípios que conduziu como guardião do futuro do estado em momentos tão cruéis.
Seu maior legado é deixar o Legislativo fluminense altivo, não apenas porque ganhou sede nova e instalações dignas para todos os parlamentares. Ele restaurou, com a sua sintonia final, um papel de protagonista, que resgatou a credibilidade de uma casa. A sigla Alerj chegou a ser usada de forma pejorativa e significava negociatas e coisas escusas. Hoje, Alerj é uma sigla respeitada e inserida nas boas práticas do Legislativo. Ceciliano restaurou o sentimento de orgulho de um eleito ser deputado da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Um legado que merece ser aplaudido de pé.
Autor: Cláudio Magnavita
Fonte: Jornal Correio da Manhã