Após um longo e emblemático julgamento que marcou o Brasil, os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram condenados pela execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Em um processo acompanhado nacionalmente, o júri popular realizado no 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro iniciou na quarta-feira (30) e terminou na quinta-feira (31), com a leitura da sentença pela juíza Lúcia Glioche. Lessa recebeu uma pena de 78 anos e 9 meses, enquanto Queiroz foi condenado a 59 anos e 8 meses. A decisão ainda inclui o pagamento de pensão e indenizações às famílias das vítimas.
A condenação dos acusados foi um marco após seis anos de investigação, protestos e cobranças por justiça. A sentença também representa um passo inicial para que, além dos executores, os mandantes do assassinato de Marielle e Anderson sejam identificados e punidos. A juíza Lúcia Glioche destacou em sua leitura que, embora a Justiça seja “lenta, cega e torta”, ela finalmente foi alcançada. Essa afirmação foi vista como um recado importante para casos de violência e impunidade no país.
A dupla foi sentenciada por duplo homicídio triplamente qualificado — devido ao motivo torpe, à emboscada e à dificuldade de defesa das vítimas — além da tentativa de homicídio de Fernanda Chaves, assessora de Marielle que sobreviveu ao atentado. Eles foram julgados remotamente, com Lessa participando de sua cela em Tremembé, São Paulo, e Queiroz de Brasília.
Provas e Estratégias da Acusação
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), representado pelos promotores Eduardo Martins e Audrey Castro, destacou ao júri a premeditação do crime, apresentando registros e imagens do carro alvejado onde estavam Marielle, Anderson e Fernanda Chaves. Conforme revelado durante o julgamento, Lessa teria disparado para eliminar todas as testemunhas e evitar que identificassem seu veículo ou qualquer detalhe que facilitasse sua captura. Para a promotoria, o extermínio de todos os ocupantes do carro foi uma tentativa de “queima de arquivo”. Lessa foi apontado como o atirador, enquanto Queiroz atuou como motorista do veículo que acompanhava Marielle naquela noite trágica.
A acusação trouxe ainda dados de pesquisas online feitas por Lessa, que, segundo o MPRJ, demonstravam o planejamento do crime, como buscas sobre armas e locais próximos ao trajeto da vereadora. Ao longo dos depoimentos, outras testemunhas foram ouvidas para fortalecer o contexto de premeditação e organização do atentado.
Participação da ComCausa e Ato Público
Com o término do julgamento, um grande ato foi realizado em frente à estátua de Marielle Franco no Buraco do Lume, ponto simbólico da luta pelos direitos humanos no Rio de Janeiro. A manifestação foi organizada para demonstrar apoio às famílias e marcar este primeiro passo rumo à responsabilização total dos envolvidos. A organização ComCausa, ativa nas mobilizações e apoio à memória de Marielle Franco, esteve presente no ato, ao lado de outras entidades e movimentos sociais, reafirmando o compromisso de manter a pressão para que a justiça continue sendo feita.
Durante o evento, Dona Marinete Silva, mãe de Marielle, e Monica Benicio, viúva da vereadora, enfatizaram a importância da condenação para que o legado de Marielle, especialmente em temas de segurança e direitos humanos, siga inspirando a sociedade. Em discurso emocionado, Marinete relembrou a luta diária desde 2018, afirmando que “a dor da perda nunca diminuirá, mas a justiça se torna uma esperança real, para que esse país possa avançar na proteção de seus ativistas e na responsabilização dos responsáveis”.
A Busca Pelos Mandantes
Apesar do desfecho desse julgamento, as investigações prosseguem para identificar e punir quem encomendou o assassinato. A cobrança por essa resposta foi um dos principais pontos do ato público, onde familiares, ativistas e representantes de movimentos sociais reforçaram que a missão agora é garantir que o caso não permaneça inconcluso.
Marcelo Freixo, ex-deputado federal e figura próxima a Marielle, também esteve presente e comentou sobre as ameaças que continua a receber, tendo sido citado pelo próprio Lessa durante o julgamento como alvo de uma proposta de assassinato. Freixo reafirmou que a busca por justiça é também uma luta contra a violência e a impunidade que ameaçam os defensores dos direitos humanos no Brasil.
A sentença de Lessa e Queiroz é um avanço significativo para o país e traz uma sensação de justiça para as famílias de Marielle e Anderson, além de todos aqueles que, ao longo dos últimos anos, se mobilizaram para manter o caso vivo na memória pública. O ato realizado nesta quinta-feira reforçou o compromisso de continuar pressionando para que os mandantes sejam encontrados e punidos, evitando que o assassinato de Marielle e Anderson seja reduzido a uma estatística na lista de impunidades.
O caso Marielle Franco se torna, portanto, um símbolo de resistência e perseverança, uma lembrança constante de que a justiça precisa prevalecer, independentemente de tempo, poder e recursos envolvidos.
Assista o julgamento ao vivo:
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