O filme dirigido por Walter Salles, “Ainda Estou Aqui” estreou com enorme sucesso. Estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello, traz um retrato psicodramático dos porões da ditadura militar no Brasil. A obra aborda a prisão e o desaparecimento de Rubens Paiva, a tortura infligida à sua esposa Eunice Paiva e a prisão de sua filha de 15 anos na época. Em uma carta publicada na revista americana Newsweek, a filha de Rubens e Eunice relatou ter sido “apalpada” por militares e agredida na cabeça.
No Brasil, ao contrário de países como Argentina, Chile e Uruguai, onde torturadores, assassinos e estupradores foram punidos, os responsáveis pelas atrocidades da ditadura foram anistiados e permaneceram nas forças armadas, enculturando práticas abusivas nas polícias.
Casos recentes de violência policial chocam pela brutalidade e são resquícios diretos desse período sombrio. São exemplos:
- Uma mulher agredida com socos e chutes por policiais enquanto estava caída no chão;
- Um jovem jogado de uma ponte;
- Um homem morto asfixiado dentro de uma viatura com gás lacrimogêneo.
Esses casos são apenas alguns entre centenas registrados e, frequentemente, documentados em vídeos que revelam o lado sombrio das práticas policiais.
De acordo com o 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, as mortes por intervenção policial quase triplicaram em 10 anos, atingindo a marca de 3,1 mortes por 100 mil habitantes. Esses números refletem a letalidade policial, mas há também um vasto histórico de agressões e torturas espalhadas pelo país.
O elefante branco na sala da democracia
“Elefante na sala” é uma expressão metafórica usada para descrever problemas tão evidentes que não podem ser ignorados, mas que muitas vezes são negligenciados por conveniência ou descaso. A origem da expressão remonta à fábula “O Homem Curioso” (1814), do escritor russo Ivan Krylov, que conta a história de um homem que visita um museu e percebe diversos objetos, mas ignora um enorme elefante na sala.
Essa metáfora ilustra perfeitamente o contexto brasileiro, onde oficiais das Forças Armadas brasileiras com suas cadelas no cio da ditadura permanecem sendo alimentadas pela nossa frágil democracia, onde as polícias constantemente violam todos os tipos de Direitos Humanos, torturando e matando e não são punidas e tão pouco buscam soluções.
O elefante branco no meio da sala, armaram um golpe de Estado, planejando o assassinato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
Esses oficiais, ao invés de serem jogados na lata de lixo da história de um regime ditatorial, continuam agindo nas sombras para subverter a democracia. Agora, buscam novamente a proteção de uma nova anistia.
Pela primeira vez na história do Brasil, 25 oficiais das Forças Armadas foram indiciados, liderados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, por sua tentativa de golpe contra a ordem democrática. Essa ação marca um ponto de inflexão: não há espaço para repetir o erro da ditadura e permitir que esses atos sejam esquecidos ou perdoados.
A justiça de hoje é também a de ontem, por Rubens Paiva, cujos algozes nunca foram condenados, por Eunice e pelos mais de 20 mil mortos e desaparecidos da ditadura brasileira que nunca tiveram justiça. Hoje, o Brasil tem o dever, por sua memória, de dar uma resposta firme a esses militares e aos que ainda tentam reviver os horrores da ditadura, assegurando que a história não se repita.
Chegou o momento de enfrentar o elefante branco sentado na sala da nossa democracia, assegurando que os militares e seus cúmplices respondam por seus crimes. Este é o caminho para garantir que a história não se repita.
Eles ainda estão aqui, mas nós também.
Por João Oscar – Jornalista e articulador da Instituição ComCasua de Direitos Humanos
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One thought on ““Ainda Estou Aqui” e “Eles ainda estão aqui””