No dia 24 de março de 1844, nasceu Cícero Romão Batista, conhecido popularmente como padre Cicero ou “Padim Ciço”. Uma das figuras religiosas e política mais importantes do Brasil, sobretudo em Juazeiro e no vale do Cariri, no sul do estado do Ceará.
Sua vida mudou quando foi anunciado um milagre eucarístico, no dia primeiro de março de 1889, quando durante uma missa celebrada pelo padre Cícero, a hóstia ministrada pelo sacerdote à religiosa Maria de Araújo se transformou em sangue na boca da religiosa. Segundo relatos, tal fenômeno se repetiu diversas vezes durante cerca de dois anos.
A notícia do milagre, que teria acontecido durante uma missa, fez Juazeiro atrair peregrinos de todas as partes do Nordeste, e padre Cícero se tornou em uma figura de devoção popular. A Igreja Católica não reconheceu o milagre e excomungou o padre, sendo que sua reabilitação só foi anunciada em 2015.
Durante a homilia na catedral de Cariri, Dom Fernando Panico declarou: “Hoje, por ocasião da solene abertura da Porta Santa da Misericórdia, nesta catedral de Nossa Senhora da Penha, quero anunciar com alegria à cara diocese de Crato e aos peregrinos de Juazeiro do Norte, um gesto concreto de misericórdia, de atenção e de afeto do Papa Francisco para nós: a Igreja Católica se reconcilia historicamente com o padre Cícero Romão Batista”.
Padre Cicero foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, em 1911, quando o povoado foi elevado a cidade. Em 1926 foi eleito deputado federal, porém não chegou a assumir o cargo. Ele e outros dezesseis líderes políticos da região se reuniram em Juazeiro e firmaram um acordo de cooperação mútua bem como o compromisso de apoiar o governador Antônio Pinto Nogueira Accioli. O encontro recebeu a alcunha de Pacto dos Coronéis, sendo apontado como uma importante passagem na história do coronelismo brasileiro.
Ao fim da década de 1920, Padre Cícero começou a perder a sua força política, que praticamente acabou depois da Revolução de 1930. Seu prestígio como santo milagreiro, porém, aumentaria cada vez mais.
Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, era devoto de padre Cícero e respeitava as suas crenças e conselhos. Os dois se encontraram uma única vez, em Juazeiro do Norte, em 1926. Naquele ano, a Coluna Prestes, liderada por Luís Carlos Prestes, percorria o interior do Brasil desafiando o Governo Federal. Para combatê-la foram criados os chamados Batalhões Patrióticos, comandados por líderes regionais que muitas vezes arregimentavam cangaceiros.
Os últimos anos de padre Cícero foram marcados pela ocorrência de uma catarata que o deixou cego do olho esquerdo e com visão mínima do olho direito. O padre, ainda, passou por uma cirurgia para tentar recuperar sua visão, mas não obteve sucesso nisso. Também teve nefrite e graves problemas intestinais.
Seus últimos meses foram de grande agonia por conta do seu estado de saúde, e seu falecimento aconteceu no dia 20 de julho de 1934. Padre Cícero lutou por toda a vida pelo reconhecimento do milagre em Juazeiro e por sua reabilitação, mas não viveu para ver isso acontecer.
No dia 20 de agosto de 2022, durante uma missa realizada no largo da Capela do Socorro, em Juazeiro do Norte, o Bispo da Diocese do Crato, Dom Magnus Henrique Lopes, afirmou que recebera uma carta datada de 24 de junho de 2022 da Congregação para a Causa dos Santos que autoriza o início do processo de beatificação de Padre Cícero. Com esta autorização do Vaticano, Padre Cícero recebeu automaticamente o título de “Servo de Deus”.