“Questão fundiária era uma das causas de Marielle,” diz Mônica Benício emocionada em júri

Monica Benício - Marielle Franco

Nesta quarta-feira (30), durante o julgamento dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, acusados do assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes em 2018, Mônica Benício, viúva da vereadora, prestou um depoimento comovente como testemunha de acusação. Ela destacou a importância da questão fundiária — a luta pelo direito à moradia digna e pela ocupação urbana —, uma das pautas defendidas por Marielle, que pode ter sido uma das razões para o crime.

“Com toda certeza, ela tinha a preocupação da defesa da cidade,” afirmou Mônica. “A questão da moradia digna para as favelas e periferias sempre foi um tema central no mandato dela, e isso podia, sim, incomodar pessoas poderosas.” Segundo Mônica, Marielle mantinha em sua equipe uma arquiteta urbanista para ajudar a articular soluções de habitação digna e desenvolvimento urbano sustentável.

Marielle, a companheira e defensora dos direitos humanos
Quando questionada sobre quem era Marielle Franco, Mônica foi às lágrimas, sendo confortada por uma advogada no tribunal. “Marielle era uma das pessoas mais companheiras que eu conheci, no sentido mais generoso e bonito que essa palavra pode ter. Ela estava feliz de ver seu trabalho dar frutos, de se enxergar na Câmara, defendendo a cidade e os direitos humanos com a força que ela acreditava,” afirmou.

Mônica recordou os momentos finais ao lado de Marielle, relembrando o último encontro das duas, no gabinete da vereadora, horas antes do assassinato. “A última coisa que ela me disse foi ‘Eu te amo’. A gente tinha planos de casar, celebrar nosso amor. Quando ela morreu, senti como se tivessem tirado a promessa de um futuro juntos.”

Luta por justiça e a dor contínua
Em seu depoimento, Mônica revelou que, nos meses após a perda da companheira, enfrentou uma profunda depressão e pensamentos suicidas. “Muitas vezes, a dor é tão intensa que parece que tudo o que sonhamos não passa de ilusão. A justiça seria ter a Marielle e o Anderson vivos, mas, dentro do que é possível, espero que seja feita justiça, que o Brasil e o mundo esperam há mais de seis anos.”

Ela ressaltou que a luta pela memória de Marielle é essencial não apenas pelo símbolo que a vereadora representa, mas também para assegurar que defensores dos direitos humanos, como ela e Anderson, não sejam esquecidos.

Contexto do julgamento e luta por mudanças
O julgamento de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz é observado por ativistas de direitos humanos e pela sociedade civil como um passo crucial para combater a impunidade em crimes que atingem figuras públicas defensoras de direitos. Mônica encerrou seu depoimento reafirmando a importância de não normalizar a violência contra mulheres negras, LGBT, ativistas e periféricos.

“Marielle não era descartável. Ela era uma mulher negra e LGBT, uma líder que acreditava em justiça social. Esse julgamento é sobre garantir que Marielles possam existir e que Andersons possam voltar para casa em segurança. Precisamos dizer que não é aceitável que um grupo utilize o assassinato como ferramenta política.”

Assista o julgamento ao vivo:

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