Memória: Caso Marielle e Anderson completa mais um ano

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 O assassinato de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro, e de seu motorista Anderson Gomes, ocorrido em 14 de março de 2018, chocou o Brasil e o mundo. Marielle, conhecida por sua atuação em defesa dos direitos humanos e das minorias, foi morta a tiros junto com Anderson, enquanto retornavam de um evento no centro da cidade.

Após anos de investigações, em outubro de 2024, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz foram condenados pelo assassinato. Lessa recebeu uma pena de 78 anos e 9 meses de prisão, enquanto Queiroz foi condenado a 59 anos e 8 meses. As investigações apontam que o crime teve motivações políticas, relacionadas à atuação de Marielle contra as milícias no Rio de Janeiro.

Além dos executores, outras figuras estão envolvidas no caso. Os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, políticos com ligações com milícias, foram presos sob acusação de serem os mandantes do crime. O delegado Rivaldo Barbosa também foi detido, suspeito de obstruir as investigações.

O caso Marielle e Anderson permanece como um marco na luta contra a violência política e a impunidade no Brasil. A busca por justiça continua, com a sociedade civil e familiares pressionando por respostas e responsabilização de todos os envolvidos.

Marielle Franco se formou pela PUC-Rio e fez mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com foco nas UPPs. Ela coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ao lado do deputado Marcelo Freixo. A ativista decidiu pela militância em direitos humanos após ingressar no pré-vestibular comunitário – justo o momento que lembrou nesta quarta no evento com outras mulheres negras – e com a morte de uma amiga a tiros. Ela deixou uma viúva e uma filha de 19 anos.

Ronnie e Élcio foram presos quando estavam saindo de suas casas e não resistiram à prisão. O Ministério Público já acatou a denuncia contra os dois, ou seja, já são réus e já começou a instrução criminal.

Segundo as investigações da GAECO/MPRJ, o assassinato foi planejado durante três meses de forma meticulosa. O sargento da PM Ronnie Lessa é acusado de efetuar os disparos e Elcio Vieira – policial militar expulso da corporação – foi quem teria dirigido o carro Cobalt na noite do crime.

Os agentes também estão executando 34 mandados de busca e apreensão nos endereços dos denunciados e outros locais para obter computadores, telefones, documentos, além de armas e munições.

Os acusados foram levados para Divisão de Homicídios, na Barra da Tijuca. Onde um advogado já aguardava a chegada dos presos.

Foto com Bolsonaro

Usuários do Twitter e Facebook compartilham nas redes sociais uma foto postada por um perfil atribuído ao ex-PM Elcio de Vieira Queiroz, um dos presos pela polícia por ter participado do assassinato da Marielle e Anderson, abraçado o presidente Jair Bolsonaro. Queiroz, teria postado a imagem em que aparece lado a lado com o Bolsonaro no último dia 4 de outubro, às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial.

Queiroz, de 46 anos, teria postado a imagem em que aparece lado a lado com o Bolsonaro no último dia 4 de outubro, às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial – Reprodução / Facebook.

Autor dos disparos

Ronnie foi preso em casa em um condomínio na Barra da Tijuca, local onde anteriormente também residia o Jair Bolsonaro antes de se tornar presidente e mudar para Brasília.

Segundo a investigação, ele é conhecido por ser exímio atirador e por sua frieza. Os agentes constataram Ronnie Lessa fez várias pesquisas na internet sobre agendas de Marielle, e que desde outubro de 2017, também pesquisava a rotina do deputado Marcelo Freixo.

No dia do atentado, além de máscara, ele terias usado uma espécie de “segunda pele”. Uma malha que cobria os braços para dificultar um possível reconhecimento.

PM reformado perdeu perna em atentado a bomba

Ronnie Lessa perdeu uma das pernas após uma granada explodir dentro de seu carro em Bento Ribeiro, no ano de 2009. O ataque aconteceu a poucos metros do 9º BPM (Rocha Miranda) onde ele era lotado. Lessa também atuou, cedido pela PM, na Delegacia Antissequestro (DAS). O atentado que mutilou o PM estaria associado a uma disputa interna pela segurança do contraventor Rogério de Andrade, que também sofreu um ataque a bomba seis meses antes. Diego de Andrade, filho de Rogério, morreu em uma emboscada contra o pai, ocorrido na Barra da Tijuca.

O autor de ambos os ataques seria o ex-sargento do Exército Volber Roberto da Silva Filho. Volber foi morto numa ação da Polícia Civil, em 2018, durante uma troca de tiros num motel em Jacarepaguá. O tiroteio, segundo o relato dos informantes, teria sido forjado para encobrir o assassinato do ex-sargento.

Em abril de 2018, Ronnie Lessa também foi alvo de uma tentativa de assalto, conforme divulgado na época. Ronnie estava acompanhado de um militar do Corpo de Bombeiros e reagiu a uma abordagem na Barra. O PM reformado acabou atingido de raspão no pescoço e o bombeiro no braço.

Junto com os pedidos de prisão e de busca e apreensão, o Ministério Público pediu a suspensão da remuneração e do porte de arma de fogo de Lessa.

Operação Lume

A Operação Lume foi batizada em referência a uma praça no Castelo, no Centro do Rio, conhecida como Buraco do Lume, onde militantes de partidos de esquerda fazem prestações de contas públicas nas sextas. Marielle desenvolvia um projeto chamado Lume Feminista. Além de significar qualquer tipo de luz ou claridade, a palavra lume compõe a expressão ‘trazer a lume’, que significa trazer ao conhecimento público, vir à luz.

“Além de significar qualquer tipo de luz ou claridade, a palavra lume compõe a expressão ‘trazer a lume’, que significa trazer ao conhecimento público, vir à luz”, informa o comunicado do MP. “É inconteste que Marielle Francisco da Silva foi sumariamente executada em razão da atuação política na defesa das causas que defendia”, diz a denúncia, acrescentando que a ação foi um golpe ao Estado Democrático de Direito.

A repercussão nacional

A esposa de Marielle, Monica Benicio, afirma: Parabéns às promotoras, e a todos os envolvidos. Espero poder ter acesso aos detalhes para que sinta segurança nesse resultado. Mas ainda falta a resposta mais urgente e necessária de todas: QUEM MANDOU MATAR Marielle? Espero não ter que aguardar mais um ano para saber.

Quem foram os mandantes
O deputado federal Marcelo Freixo postou em suas redes sociais: “o assassinato de uma vereadora é um crime político. Por isso é fundamental sabermos qual grupo político é capaz de, em pleno século XXI, mandar elimar uma autoridade pública que tenha cruzado seu caminho. Precisamos descobrir quem são os mandantes da execução de Marielle Franco”.

Ele ainda acrescenta: “As prisões dos executores de Marielle e Anderson são importantes e tardias. É inaceitável que se demore um ano para termos alguma resposta. É um passo decisivo, mas o caso não está resolvido. É fundamental saber quem mandou matar e qual a motivação”.

O assassinato de uma vereadora é um crime político. Por isso é fundamental sabermos qual grupo político é capaz de, em pleno século XXI, mandar elimar uma autoridade pública que tenha cruzado seu caminho. Precisamos descobrir quem são os mandantes da execução de Marielle Franco.

Indenização dos familiares

Além da denuncia contra os Ronnie Lessa e Elcio Vieira de Queiroz. O MP também requeriu indenização por danos morais aos familiares das vítimas e a fixação de pensão em favor do filho menor de Anderson até completar 24 anos de idade.

Marielle foi assassinada no dia 14 de março de 2018 – Carro da vereadora com marcas de tiro e vidros estilhaçados foi levado para a DH, após perícia inicia.


“É inconteste que Marielle Francisco da Silva foi sumariamente executada em razão da atuação política na defesa das causas que defendia”, diz a denúncia acrescentando que a barbárie praticada na noite de 14 de março de 2018 foi um golpe ao Estado Democrático de Direito.

Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz são condenados 

Após um longo e emblemático julgamento que marcou o Brasil, os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram condenados pela execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Em um processo acompanhado nacionalmente, o júri popular realizado no 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro iniciou na quarta-feira (30) e terminou na quinta-feira (31), com a leitura da sentença pela juíza Lúcia Glioche. Lessa recebeu uma pena de 78 anos e 9 meses, enquanto Queiroz foi condenado a 59 anos e 8 meses. A decisão ainda inclui o pagamento de pensão e indenizações às famílias das vítimas.

A condenação dos acusados foi um marco após seis anos de investigação, protestos e cobranças por justiça. A sentença também representa um passo inicial para que, além dos executores, os mandantes do assassinato de Marielle e Anderson sejam identificados e punidos. A juíza Lúcia Glioche destacou em sua leitura que, embora a Justiça seja “lenta, cega e torta”, ela finalmente foi alcançada. Essa afirmação foi vista como um recado importante para casos de violência e impunidade no país.

A dupla foi sentenciada por duplo homicídio triplamente qualificado — devido ao motivo torpe, à emboscada e à dificuldade de defesa das vítimas — além da tentativa de homicídio de Fernanda Chaves, assessora de Marielle que sobreviveu ao atentado. Eles foram julgados remotamente, com Lessa participando de sua cela em Tremembé, São Paulo, e Queiroz de Brasília.

Provas e Estratégias da Acusação
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), representado pelos promotores Eduardo Martins e Audrey Castro, destacou ao júri a premeditação do crime, apresentando registros e imagens do carro alvejado onde estavam Marielle, Anderson e Fernanda Chaves. Conforme revelado durante o julgamento, Lessa teria disparado para eliminar todas as testemunhas e evitar que identificassem seu veículo ou qualquer detalhe que facilitasse sua captura. Para a promotoria, o extermínio de todos os ocupantes do carro foi uma tentativa de “queima de arquivo”. Lessa foi apontado como o atirador, enquanto Queiroz atuou como motorista do veículo que acompanhava Marielle naquela noite trágica.

A acusação trouxe ainda dados de pesquisas online feitas por Lessa, que, segundo o MPRJ, demonstravam o planejamento do crime, como buscas sobre armas e locais próximos ao trajeto da vereadora. Ao longo dos depoimentos, outras testemunhas foram ouvidas para fortalecer o contexto de premeditação e organização do atentado.

Participação da ComCausa e Ato Público
Com o término do julgamento, um grande ato foi realizado em frente à estátua de Marielle Franco no Buraco do Lume, ponto simbólico da luta pelos direitos humanos no Rio de Janeiro. A manifestação foi organizada para demonstrar apoio às famílias e marcar este primeiro passo rumo à responsabilização total dos envolvidos. A organização ComCausa, ativa nas mobilizações e apoio à memória de Marielle Franco, esteve presente no ato, ao lado de outras entidades e movimentos sociais, reafirmando o compromisso de manter a pressão para que a justiça continue sendo feita.

Durante o evento, Dona Marinete Silva, mãe de Marielle, e Monica Benicio, viúva da vereadora, enfatizaram a importância da condenação para que o legado de Marielle, especialmente em temas de segurança e direitos humanos, siga inspirando a sociedade. Em discurso emocionado, Marinete relembrou a luta diária desde 2018, afirmando que “a dor da perda nunca diminuirá, mas a justiça se torna uma esperança real, para que esse país possa avançar na proteção de seus ativistas e na responsabilização dos responsáveis”.

A Busca Pelos Mandantes
Apesar do desfecho desse julgamento, as investigações prosseguem para identificar e punir quem encomendou o assassinato. A cobrança por essa resposta foi um dos principais pontos do ato público, onde familiares, ativistas e representantes de movimentos sociais reforçaram que a missão agora é garantir que o caso não permaneça inconcluso.

Marcelo Freixo, ex-deputado federal e figura próxima a Marielle, também esteve presente e comentou sobre as ameaças que continua a receber, tendo sido citado pelo próprio Lessa durante o julgamento como alvo de uma proposta de assassinato. Freixo reafirmou que a busca por justiça é também uma luta contra a violência e a impunidade que ameaçam os defensores dos direitos humanos no Brasil.

A sentença de Lessa e Queiroz é um avanço significativo para o país e traz uma sensação de justiça para as famílias de Marielle e Anderson, além de todos aqueles que, ao longo dos últimos anos, se mobilizaram para manter o caso vivo na memória pública. O ato realizado nesta quinta-feira reforçou o compromisso de continuar pressionando para que os mandantes sejam encontrados e punidos, evitando que o assassinato de Marielle e Anderson seja reduzido a uma estatística na lista de impunidades.

O caso Marielle Franco se torna, portanto, um símbolo de resistência e perseverança, uma lembrança constante de que a justiça precisa prevalecer, independentemente de tempo, poder e recursos envolvidos.

Assista o julgamento ao vivo:

Os irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa são presos por mandar matar Marielle Franco

Três suspeitos de envolvimento no assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes foram detidos neste domingo (24) como parte da Operação Murder, Inc., uma ação conjunta da Polícia Federal, Procuradoria-Geral da República e Ministério Público do Rio de Janeiro. Os detidos incluem os irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão, conhecidos políticos ativos desde os anos 90, juntamente com o delegado Rivaldo Barbosa, que assumiu a chefia da Polícia Civil um dia antes do atentado fatal contra Marielle Franco em março de 2018.

Os três foram alvo de mandados de prisão preventiva como supostos mandantes do assassinato de Marielle Franco, que resultou na morte também de seu motorista, Anderson Gomes. A operação também incluiu a emissão de 12 mandados de busca e apreensão, visando a sede da Polícia Civil do Rio e o Tribunal de Contas do Estado.

A investigação, que há muito tempo estava em andamento, teve um avanço significativo após a homologação da delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa pelo Supremo Tribunal Federal. Lessa, que está detido desde 2019 sob acusação de ser um dos executores do crime, apontou os supostos mandantes e também esclareceu a motivação por trás do assassinato.

De acordo com Lessa, os mandantes fazem parte de um grupo político influente no Rio de Janeiro, com interesses em diversos setores do Estado. O ex-policial forneceu detalhes de encontros com eles e indicou possíveis motivações para o crime, que aparentemente estão relacionadas à expansão territorial das milícias na região.

A operação foi executada neste domingo para surpreender os suspeitos, pois informações de inteligência indicavam que estavam alertas nos últimos dias após a divulgação da delação de Lessa. Os agentes apreenderam documentos e dispositivos eletrônicos para análise pericial, enquanto os investigadores continuam trabalhando para esclarecer completamente os motivos por trás desse ato hediondo.

O crime aconteceu 14 de março de 2018, na rua Joaquim Palhares, no Estácio, onde mataram Marielle e o motorista que estava com ela, identificado como Anderson Pedro Gomes, também foi assassinado a tiros. De acordo com a imprensa carioca, a vereadora estava acompanhada ainda da assessora Fernanda Chaves, que sobreviveu.

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