Bloqueio desta terça expõe novamente o fracasso da política de segurança no Rio

Baixada Fluminense

Na manhã desta terça-feira (10), o Rio de Janeiro viveu mais um colapso urbano provocado por uma megaoperação policial. Por volta das 6h30, agentes da Polícia Civil sitiaram comunidades do Complexo de Israel, na Zona Norte da capital, em uma ação contra o grupo criminoso Terceiro Comando Puro. O resultado: caos total na cidade. As duas principais vias expressas da Região Metropolitana, a Avenida Brasil e a Linha Vermelha, foram completamente fechadas por mais de uma hora. Motoristas, passageiros de ônibus, moradores e trabalhadores viveram momentos de pânico e desespero. Tiros cruzavam os dois lados da pista, viaturas avançavam em contramão e pessoas se jogavam no asfalto para tentar sobreviver.

Não foi um episódio isolado — tampouco imprevisto. A operação provocou um efeito dominó: o COR-Rio (Centro de Operações da Prefeitura) acionou o Estágio 2 de atenção, que só é utilizado em casos de “ocorrências de alto impacto”. Ao todo, 50 linhas de ônibus desviaram seus itinerários, 21 escolas suspenderam as aulas e quatro unidades de saúde ativaram protocolos de emergência. Trens, metrôs e o sistema BRT pararam. Em pleno horário de pico, milhares de trabalhadores ficaram reféns de uma cidade sitiada, sem direito a segurança, transporte ou sequer previsibilidade.

Rotina de bloqueios: quando o caos vira regra

A operação desta terça marca ao menos o nono grande bloqueio da Avenida Brasil em 2025 e o terceiro fechamento completo da Linha Vermelha. Em 31 de janeiro, a Brasil foi interditada na altura da Cidade Alta; em 12 de fevereiro, as duas vias voltaram a ser fechadas numa ação para capturar o traficante “Peixão”; em 3 de junho, uma nova operação causou novo bloqueio total. Os dados mostram que os fechamentos de vias estruturantes do Rio deixaram de ser exceções e passaram a integrar uma rotina de violência que transforma operações policiais em verdadeiros cercos urbanos.

Tiroteios em alta: mais de mil casos em cinco meses

De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, 1.011 tiroteios foram registrados na Região Metropolitana do Rio entre janeiro e maio de 2025, sendo 441 deles (44%) em ações policiais. Foram 679 pessoas baleadas, com 338 mortes e 341 feridos. Na capital, a Zona Norte concentrou 44% dos confrontos, com destaque para o Complexo da Maré, Vigário Geral, Vila Isabel e Cascadura.

O Morro dos Macacos, em Vila Isabel, teve 37 tiroteios apenas nos cinco primeiros meses do ano, número recorde desde 2019. No entorno da Avenida Brasil, 18 episódios com troca de tiros já foram registrados neste ano, e a via acumula 267 confrontos armados desde 2016. Já na Linha Vermelha, são 52 ocorrências violentas no mesmo período. A violência deixou de ser pontual: tornou-se estrutural.

O impacto humano também é crescente: o número de vítimas de bala perdida subiu 58% em 2025, impulsionado justamente por operações em áreas densamente povoadas, onde o risco de atingir civis é elevado. O modelo de segurança pública baseado em confrontos espetaculares está falido, mas segue inalterado.

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O preço do descontrole: sangue, recessão e medo

A interrupção de vias como a Avenida Brasil e a Linha Vermelha tem efeitos econômicos devastadores. Prejudica o transporte de trabalhadores e mercadorias, desorganiza serviços essenciais e afasta investimentos. Para os moradores da cidade, o que deveria ser um episódio excepcional virou rotina: cada nova operação é um sorteio de balas perdidas, congestionamentos, suspensão de aulas e mais medo.

Se o Rio de Janeiro quiser sair do ciclo de violência e colapso urbano, precisará de uma revisão profunda e multilateral de sua política de segurança — baseada em evidências, com controle externo, investimentos sociais robustos e colaboração entre municípios, estado e União. Do contrário, continuará pagando com vidas e retrocessos o preço de uma guerra urbana onde o inimigo parece ser o próprio cotidiano.

Quantos bloqueios já houve na Avenida Brasil e na Linha Vermelha em 2025?

Via expressa Ocorrências já documentadas*
Avenida Brasil ≥ 9 bloqueios entre 1.º de janeiro e 10 de junho.
• 7 bloqueios em janeiro-fevereiro / 2025 (1 a cada 4 dias)
• fechamento total em 3 de junho / 2025
• fechamento total em 10 de junho / 2025
Linha Vermelha ≥ 3 interdições totais no mesmo período.
• 2 interdições em janeiro-fevereiro / 2025
• fechamento total em 10 de junho / 2025

Onde e quantos tiroteios já foram registrados no Rio em 2025?

O Instituto Fogo Cruzado contabilizou 1 .011 tiroteios/disparos de arma de fogo na Região Metropolitana do Rio entre 1.º de janeiro e 31 de maio de 2025. Desses, 441 (44 %) ocorreram durante ações ou operações policiais. 679 pessoas foram baleadas: 338 morreram e 341 ficaram feridas. aseguirniteroi.com.br

Município (maio / 2025) Tiroteios Mortos Feridos
Rio de Janeiro (capital) 127 33 25
Duque de Caxias 10 7
Niterói 8 3 4
São Gonçalo 8 2 4
Nova Iguaçu 5 4 5

 

Imagem de capa ilustrativa

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