Nascido em 9 de fevereiro de 1953, na cidade de Pádua, na Itália, padre Ezequiel Ramin dedicou sua vida à missão religiosa e à luta pelos direitos dos mais vulneráveis. Missionário comboniano, percorreu um longo caminho de formação, passando por Florença, Venegono, Inglaterra e Chicago, antes de ser ordenado sacerdote em 1980, em sua cidade natal.
Com um forte desejo de servir, foi enviado ao Brasil em 1983. Antes de partir, expressou sua vocação missionária em uma frase que se tornou símbolo de sua trajetória: “Ainda não sei aonde irei, porém estou contente com o fato de partir. É uma coisa mais forte do que eu.” Após um período de adaptação em Brasília, onde aprendeu português e estudou a realidade social e eclesial do país, foi designado para atuar em Cacoal, Rondônia.
Naquela região, encontrou um cenário de desigualdade extrema, onde pequenos agricultores e indígenas eram vítimas constantes de ameaças, violência e expulsões forçadas de suas terras. Os grandes latifundiários, por meio da grilagem e da força bruta, tentavam ampliar suas propriedades à custa dos mais pobres. Padre Ezequiel não se omitiu: colocou-se ao lado dos trabalhadores rurais, denunciando as injustiças e se tornando uma voz incômoda para aqueles que detinham o poder. Em suas celebrações, falava abertamente contra a exploração e as perseguições que enfrentava, consciente dos riscos que corria.
No dia 24 de julho de 1985, sua luta foi brutalmente interrompida. Juntamente com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cacoal, foi até uma comunidade de colonos ameaçados de despejo para aconselhá-los a evitar o confronto. No caminho de volta, caiu em uma emboscada e foi assassinado a tiros. Até hoje, os mandantes do crime nunca foram punidos.
A morte de padre Ezequiel Ramin não silenciou sua causa. Pelo contrário, tornou-se um símbolo da luta pela reforma agrária, pela justiça social e pelo direito dos povos indígenas e trabalhadores rurais. Sua trajetória de coragem e compromisso com os mais pobres continua inspirando movimentos sociais e religiosos, reforçando a necessidade de uma sociedade mais justa e solidária.
Pai Nosso dos Mártires
Dias após a trágica morte de Padre Ezequiel Ramin, uma comovente celebração reuniu fiéis para honrar sua memória. Em meio à dor e ao luto, uma melodia ecoou pela igreja, tocando profundamente os corações dos presentes. A canção, conhecida como “Pai Nosso dos Mártires”, foi composta pelo Padre Cireneu Kuhn em homenagem ao missionário comboniano assassinado por sua incansável defesa dos mais vulneráveis.
A música nasceu em um momento de profunda comoção, refletindo o espírito de luta e a fé inabalável de Padre Ezequiel. Seu compromisso com a justiça social e com os trabalhadores rurais perseguidos pela grilagem e pela violência no campo marcou sua trajetória, tornando-o um mártir da causa dos pobres. Inspirado por essa entrega total à missão cristã, Padre Cireneu Kuhn transformou a dor da perda em versos e acordes que expressam coragem, resistência e esperança.
A história por trás da canção foi compartilhada pelo próprio autor no documentário “Pe. Ezequiel Ramin, mártir da opção pelos pobres”, que narra a vida e o legado do missionário assassinado em 24 de julho de 1985. No filme, Padre Cireneu relembra como a composição ganhou vida e se tornou um símbolo da luta pelos direitos humanos. A letra ressoa os ideais que guiaram a jornada de Ezequiel Ramin, destacando a solidariedade, a justiça e a denúncia das injustiças cometidas contra os mais fracos.
A primeira vez que “Pai Nosso dos Mártires” foi cantado em uma celebração pública, a emoção tomou conta dos fiéis. Entre lágrimas e orações, a melodia trouxe conforto e renovou o compromisso daqueles que, como Padre Ezequiel, acreditam em um mundo mais justo e fraterno.
Hoje, a canção continua a ser entoada em diversas comunidades cristãs e movimentos sociais, perpetuando a memória de Padre Ezequiel Ramin e de tantos outros que deram a vida pela dignidade dos marginalizados. Seu legado não foi silenciado pelos tiros que o assassinaram, mas segue vivo na fé e na luta daqueles que não aceitam a opressão como destino.
“Pai Nosso dos Mártires” (Trecho da Canção)
“Pai nosso, dos pobres marginalizados,
Pai nosso, dos mártires, dos torturados.
Teu nome é santificado naqueles que morrem defendendo a vida,
Teu nome é glorificado, quando a justiça é nossa medida.”
As palavras dessa oração cantada seguem ecoando, inspirando novas gerações a manterem viva a missão pela qual Padre Ezequiel entregou sua vida: a luta pela terra, pela justiça e pela dignidade dos mais humildes.
Padre Ezequiel Ramin: A História por Trás do ‘Pai Nosso dos Mártires’
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